A programação do segundo dia do MECI – Mercado do Cinema Independente aprofunda questões centrais sobre a distribuição dos filmes brasileiros e o papel estratégico das Film Commissions no fortalecimento do audiovisual nacional.

O segundo dia do MECI seguiu com debates pulsantes sobre os caminhos e desafios enfrentados pelo cinema brasileiro. Com foco em estratégias de distribuição, políticas públicas, articulação territorial e promoção internacional por meio do audiovisual, os painéis reuniram nomes importantes do setor que contribuíram com análises realistas e potentes sobre os bastidores da indústria.

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Painel “Bilheteria De Produções Nacionais”

O painel “Bilheteria De Produções Nacionais: Combatendo Hollywood” colocou em pauta uma das grandes dores do setor: o espaço — ou a falta dele — nas salas de cinema. Mediado por Juliana Flores (Cine Passeio), o debate contou com Felipe Lopes (Retrato Filmes / ANDAI) e Daniel Queiroz (Embaúba Filmes), que trouxeram uma leitura crítica e estratégica sobre como o mercado brasileiro ainda opera em desvantagem frente ao domínio hollywoodiano.

Para Felipe, a lógica que privilegia o cinema internacional nas salas do país é uma questão estrutural e histórica. “Hollywood teve e ainda tem uma política de ocupação. A gente não quer acabar com esse cinema, mas sim buscar um equilíbrio. Ainda enfrentamos barreiras de mercado quase um século depois da criação do cinema”, comentou. Ele destacou o caso do filme “Nosso Sonho”, que mesmo figurando entre os três maiores da bilheteria, teve sessões cortadas abruptamente, na segunda semana de exibição.

Daniel reforçou a importância de definir que tipo de cinema se está tentando proteger. “Minha defesa é pelo cinema brasileiro mais autoral, mais artístico. Quando se trata desse tipo de obra, os espaços são ainda mais escassos”, disse. A vitrine para esses filmes é limitada, e a programação nas redes de cinema muitas vezes ignora essas produções — inclusive por falta de curadoria adequada.

O tema da cota de tela também gerou reflexões. Daniel lembrou que ela é necessária, mas insuficiente. “Se a cota for preenchida apenas com filmes comerciais, ela perde o sentido de fomentar diversidade. Precisamos pensar em cotas dentro das cotas, com critérios qualitativos”, sugeriu. Felipe destacou a importância da formação de público e de uma campanha de valorização do cinema nacional. “As políticas são muito baseadas em editais, mas falta uma agenda de cultura de público, de educação para o olhar. Precisamos criar um ambiente onde o nosso cinema seja visto e valorizado.”

As falas também tocaram em questões estruturais como a carência de políticas para distribuição e preservação. Daniel alertou: “Estamos produzindo como nunca, mas os filmes continuam invisíveis. Onde está a estrutura de distribuição que sustente esse volume de produção?”.

Painel “Film Commissions E O Seu Papel”

No painel “Film Commissions E O Seu Papel No Desenvolvimento Da Indústria Cinematográfica”, o debate girou em torno da importância dessas entidades na articulação entre produções, territórios e políticas públicas. Mediado por Jussara Locatelli (Presidente do SIAPAR), o encontro teve a participação de Luiz Gustavo Vilela Teixeira (PR Film Commission) e Allexia Galvão (Embratur), que apresentaram um panorama atualizado da atuação das film commissions no Brasil.

Luiz Gustavo apontou que, embora a Film Commission do Paraná seja estadual, a maioria das iniciativas ainda são municipais. Seu trabalho, descrito carinhosamente como “despachante e lobista”, envolve desde a desburocratização de processos até articulações com prefeituras e secretarias para atrair e viabilizar produções no estado. “Estamos montando um selo de ‘amigo do audiovisual’ em parceria com o Sebrae, para certificar prestadores de serviços e atrair ainda mais produções”, adiantou.

Allexia trouxe uma perspectiva nacional e internacional: o Brasil é o único país do G10 que ainda não possui uma film commission nacional formalizada. “Estamos em tratativas com o MinC e outras instituições para mudar esse cenário. O audiovisual é uma poderosa ferramenta de promoção turística”, destacou. Ela citou dados que comprovam o impacto direto de filmes e séries na escolha de destinos turísticos, principalmente em países asiáticos. “Quando o Brasil aparece em produtos audiovisuais, o interesse internacional por nos visitar cresce até 50%.”

A criação dessa estrutura nacional poderia também fomentar incentivos fiscais regionais mais organizados e eficientes. Luiz mencionou que filmar no Paraná pode ser mais barato do que em São Paulo, mas essa vantagem precisa ser formalizada com políticas que atraiam produções sem prejudicar a cadeia local. “A Colômbia atraiu muitas filmagens, mas a um alto custo interno. Precisamos aprender com esses modelos sem reproduzir suas falhas”, alertou Allexia.

O painel encerrou com a defesa de uma visão pragmática do cinema como indústria. “Audiovisual é cultura, mas também é negócio”, reforçou Allexia. Um recado claro para quem ainda enxerga a cultura como gasto e não como investimento.

O MECI 2025 se aproxima do fim, mas ainda reserva grandes encontros e reflexões para o último dia de evento. Amanhã, o CineOrna acompanha mais uma rodada de painéis imperdíveis, com nomes relevantes do setor audiovisual e debates que seguem fortalecendo o cinema brasileiro.

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