
No início dos anos 2000, o cinema viu nascer uma comédia que rapidamente se tornaria um queridinho do público e um verdadeiro clássico pop: “Miss Simpatia“. Dirigido por Donald Petrie, também responsável por sucessos como “Sintonia de Amor” e “Como Perder um Homem em 10 Dias“, o filme é estrelado por Sandra Bullock em um de seus papéis mais marcantes e carismáticos. Aqui, ela dá vida à agente do FBI Gracie Hart, uma mulher durona, desajeitada e absolutamente alheia aos padrões femininos convencionais, que se vê obrigada a se infiltrar em um concurso de Miss Estados Unidos para impedir um atentado terrorista.

O contraste entre o mundo austero do FBI e o universo brilhante, polido e performático dos concursos de beleza rende cenas hilárias, mas também oferece comentários sutis, e por vezes afiados, sobre padrões estéticos, feminilidade e empoderamento. A transformação de Gracie, conduzida pelo personagem Victor Melling (interpretado com elegância e humor por Michael Caine), é um dos pontos altos do filme. Não apenas visual, a mudança de Gracie envolve confiança, autoconhecimento e a descoberta de que força e sensibilidade podem, sim, coexistir.
Além de Caine, o elenco conta ainda com Benjamin Bratt como o parceiro bonitão e pouco sensível Eric Matthews, Candice Bergen como a ambígua e elegante apresentadora do concurso Kathy Morningside, e William Shatner, impagável no papel do apresentador Stan Fields. Juntos, eles ajudam a construir uma narrativa leve, divertida e envolvente, que atravessa os anos com o mesmo charme.

“Miss Simpatia” não apenas marcou época, como também revelou o poder cômico e a inteligência criativa de Sandra Bullock, que além de protagonista, também atuou como produtora do longa. Foi ideia dela, inclusive, deixar a personagem mais desajeitada e engraçada, criando momentos memoráveis como a queda na passarela e a icônica cena em que Gracie surge transformada ao som de “Mustang Sally”. A sequência foi tão inesperada que as reações dos figurantes foram totalmente reais.

O sucesso foi estrondoso e rendeu uma continuação em 2005, “Miss Simpatia 2: Armada e Poderosa“. Embora não tenha repetido o mesmo impacto do original, ajudou a consolidar a personagem Gracie Hart como uma das figuras femininas mais queridas do cinema dos anos 2000.

Rever “Miss Simpatia” hoje é reviver uma era em que a comédia romântica flertava com o gênero policial de forma criativa, explorando temas como autoimagem, sororidade e autenticidade feminina, tudo isso embrulhado em uma embalagem pop, divertida e cheia de estilo. Um clássico que prova que, mesmo em um ambiente cheio de lantejoulas e spray de cabelo, ainda há espaço para heroínas que sabem brigar, tropeçar, rir de si mesmas e salvar o dia.