Em 1993, “Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros” foi o primeiro filme que assisti no cinema, no já extinto Cine Lido, no centro de Curitiba. Mais do que uma sessão, foi uma experiência que definiu minha relação com o cinema e marcou o início de uma franquia que, mesmo com altos e baixos, nunca deixou de habitar meu imaginário.

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Em “Jurassic World: Recomeço”, esse elo é reativado. Há, sim, uma sensação de retorno. A aventura pulsa novamente, com destaque especial para as sequências aéreas e subaquáticas que resgatam o deslumbre visual e o senso de perigo que tornaram os primeiros filmes da franquia inesquecíveis. As referências aos filmes de Spielberg estão por toda parte, desde os enquadramentos que ecoam “Tubarão“, passando por uma loja de conveniência que lembra muito a cena dos Velociraptors na cozinha do primeiro filme, até os silêncios tensos que precedem o caos.

Um dos grandes trunfos é a adaptação de uma cena icônica do livro original de Michael Crichton, jamais usada nos filmes anteriores: o ataque do Tiranossauro a um bote inflável. Aqui, ela ganha vida com força e impacto, entregando o tipo de suspense que os fãs sempre desejaram ver na tela grande.

Ainda assim, o roteiro sofre com um desequilíbrio notável: ao mesmo tempo em que apresenta uma missão ilegal de busca por DNA de dinossauros e uma jornada de férias em família, acaba não aprofundando nenhuma das duas linhas narrativas. Se o longa tivesse se comprometido mais com a perspectiva familiar, com suas descobertas e tensões internas, o resultado teria sido mais coeso e emocionalmente ressonante.

Há nostalgia na presença de dinossauros queridos e assustadores, mas também há certo estranhamento com novas criaturas que parecem saídas de um pesadelo mal elaborado, monstros que mais confundem do que fascinam. Essa combinação de reverência ao passado com um experimentalismo visual um tanto exagerado dá ao filme um tom curioso: é, ao mesmo tempo, uma homenagem e uma tentativa de reinvenção que nem sempre acerta o alvo.

Ainda assim, o suspense está em alta, a direção visual é notável e a sensação de aventura está de volta. Para quem cresceu com a franquia, “Jurassic World: Recomeço” oferece momentos de puro encantamento, mesmo tropeçando aqui e ali em alguns pontos.

Na direção, Gareth Edwards (de “Rogue One” e “Godzilla“) imprime uma abordagem visual grandiosa e respeitosa ao legado da franquia. Ele aposta em planos abertos que valorizam tanto a vastidão dos cenários quanto o impacto dos dinossauros em tela. O uso de efeitos práticos combinados com CGI é um acerto, resgatando parte do realismo que os fãs do original tanto admiram. Edwards também injeta um ritmo mais contido nos momentos de suspense, lembrando que a verdadeira tensão muitas vezes está no que não se vê de primeira, uma homenagem clara ao estilo de Spielberg. Ainda que o roteiro tenha seus tropeços, a direção se mantém firme em construir uma atmosfera de descoberta, perigo e nostalgia.

Scarlett Johansson lidera o elenco com segurança e carisma, trazendo uma personagem que mistura vulnerabilidade e determinação, ainda que o roteiro não lhe ofereça muitos momentos para aprofundamento emocional. Jonathan Bailey, surpreende em um papel mais físico e aventureiro, entregando cenas de ação com intensidade e boa química em cena.

Já o núcleo da Família Delgado, com o pai interpretado por Manuel Garcia-Rulfo, traz frescor e humanidade à trama. A dinâmica entre os membros da família funciona bem, com destaque para a filha adolescente e seu namorado Xavier, interpretado por David Iacono, que entra como alívio cômico, e consegue, com seu timing certeiro, aliviar a tensão nos momentos certos sem quebrar o clima de aventura.

Nota CineOrna: ⭐⭐⭐⭐☆ (4/5)
Indicado para: fãs de longa data da franquia “Jurassic Park” que buscam reviver a emoção dos primeiros filmes, especialmente aqueles que apreciam o suspense, a aventura visual e o charme nostálgico de dinossauros clássicos em novas situações. Ideal também para espectadores que gostam de blockbusters com ecos do cinema de Spielberg, com direito a emoção, tensão e um toque de maravilhamento pré-histórico.