“Estou muito orgulhoso”, comenta Steven Spielberg sobre seu filme mais recente, chamado “Ponte de Espiões“. Seu quarto trabalho com Tom Hanks (“O Resgate do Soldado Ryan” [pelo qual Spielberg ganhou um Oscar® de Melhor Diretor], “Prenda-me se For Capaz” e “O Terminal“) acompanha a história do advogado de sinistros James B. Donovan (Hanks) que é recrutado para defender o espião russo Rudolf Abel (Mark Rylance) no auge da Guerra Fria, uma tarefa que leva a uma missão perigosa em Berlim Oriental para conseguir que fosse feita a troca entre Abel e o piloto americano Francis Gary Powers (Austin Stowell). Repleto de interpretações magníficas, confrontos tensos e filmagem corajosa, “Ponte de Espiões“ dá sequência à visão absorvente da história contida em clássicos de Spielberg como “A Lista de Schindler” e “Lincoln” combinando esse elemento ao suspense tenso de filmes queridos pelo público como “Tubarão” e “Jurassic Park: Parque dos Dinossauros“. Numa entrevista detalhada, ele fala sobre história, suas conexões pessoais com a Guerra Fria, espionagem e uma visita de um dos líderes mais poderosos do mundo.
Um dos seus maiores dons como cineasta é encontrar histórias a partir da História que permanecem atuais e relevantes. Como faz isso?
Vou fazer uma afirmação ousada da qual terei que me retratar algum dia: Acho que a História escreve histórias melhores do que a ficção. Quando encontramos algo há História que é tão intrigante, dizemos: “Ninguém poderia ter inventado isso!” A História nos oferece histórias que são quase inacreditáveis. Toda vez que leio uma biografia ou um livro sobre um incidente que ocorreu, imediatamente quero transformá-lo em um filme. Sempre consigo encontrar uma gema preciosa, aquela parte da verdade da qual ninguém falou realmente. Vou direto ao rodapé e digo: “Esta é a história!”
Como isso se aplica a Ponte de Espiões? Parece que você conseguiu desencavar a última história não revelada sobre a Guerra Fria?
Alguém chegou e me perguntou: “Você quer fazer um filme sobre Gary Powers que foi abatido na União Soviética em seu U2?” E isso teria dado material suficiente para um filme inteiro. Mas Tom e eu descobrimos depois que havia muito mais do que isso. Percebemos que, por mais incrível que pareça, esses fatos realmente aconteceram.
O fio condutor do filme é o relacionamento entre o advogado americano especializado em sinistros James Donovan e o espião russo Rudolf Abel. Não é a dupla diferente que já vimos um milhão de vezes antes.
Evitamos estereótipos porque os incidentes da vida real de Donovan e Abel evitaram estereótipos. Foi uma parceria muito improvável. Eu queria que este filme fosse um tipo de história de relacionamento na qual o público ficasse ansioso para ver Abel e Donovan em cena novamente.
Quais são suas conexões pessoais com a história?
Eu era adolescente nessa época. Lembro como eu estava assustado. Eu me recordo dos treinos contra bombardeios aéreos nos quais tínhamos de nos abaixar e entrar debaixo de nossas carteiras e colocávamos livros sobre a cabeça. Lembro também dos filmes que nos mostravam sobre o que fazer se víssemos um clarão e o que uma bomba nuclear causaria a uma cidade, imaginem a uma pequena casa nos subúrbios de Phoenix, Arizona. Eu estava muito ciente sobre tudo isso.
Como descreveria a visão do filme sobre a espionagem?
Não é uma visão glamorosa. Há muito trabalho de detetive e muita conversa. Há muita espera e pausas. Há um momento absurdo saído direto de um filme de espiões de Hollywood no qual um agente da CIA entrega a Donovan um número de telefone para memorizar e aí imediatamente o queima. Donovan tira um sarro dizendo: “Isso é coisa de filme, mas não é do filme no qual estou!”
O filme é sobre valores atemporais — integridade, coragem moral – mas também tem um reflexo sobre diversas preocupações e questões contemporâneas?
Naqueles tempos, vigiávamos um ao outro. Hoje em dia, temos uma multidão vigiando cada um e não apenas quando há informações importantes a serem roubadas. Hoje, hacking é um esporte. De tempos em tempos, um hacker topa com uma informação que pode lhe trazer dinheiro ou fazer com que ele tenha de fugir do país. Todos que sabem como manipular equipamentos eletrônicos podem espionar.
A missão do U2 de Power é uma precursora dos drones da atualidade?
Há muita espionagem atualmente. Também estamos num momento, que eu não chamaria de Guerra Fria, mas de relacionamento gélido entre Putin e Obama e a China. Há gelo no ar atualmente.
Quando vocês estavam filmando na Ponte Glienicke, a verdadeira ponte dos espiões, receberam a visita da Chanceler Merkel. Como foi?
Nós a vimos duas vezes naquele dia. Ela fez perguntas muito apropriadas e incisivas. Na verdade, ela veio ao set na noite mais fria que encaramos durante toda a filmagem. Nós estávamos vestidos como se fossemos para o Evereste e a Chanceler Merkel usava o que eu chamaria de roupa de meia-estação. Ela não parecia estar com frio.
O filme termina num momento clássico de suspense à moda Spielberg com base num telefonema. Seriam essas o tipo de cenas que você gostaria de fazer como cineasta?
Sabe do que gosto? Gosto da espera antes de o telefone tocar. É o tipo de cena no qual, numa versão cliché, haveria o tique-taque de um relógio. Ouviríamos o tique-taque e de repente o telefone tocaria. Nós simplesmente os deixamos sentados em silêncio, esperando que outra pessoa fizesse algo primeiro. Adoro esses momentos de espera.
Por último, que outras personalidades histórias você gostaria de retratar num filme?
Eu adoraria fazer um filme sobre os irmãos Wright algum dia. Desde que eu era criança, sempre me interessei por isso. Haveria um personagem dizendo: “O avião! O avião!”
Saiba mais sobre o filme:
Crítica | “Ponte dos Espiões“, por Thiago Cardoso
Notícias | Steven Spielberg e Tom Hanks estão juntos no longa “Ponte dos Espiões“
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