O novo filme de David O. Russel que traz a volta das estrelas de seus dois últimos filmes (“O Vencedor” e “O Lado Bom da Vida“) de longe parece um dos filmes mais bem humorados dessa safra, com direito a um Christian Bale barrigudo e com calvície, Bradley Cooper e seus mini-bobes, além de Amy Adams e Jennifer Lawrence esbanjando suas belezas entre diversos vestidos, “Trapaça” tinha ares de uma boa comédia de golpistas, mas se prende a um melodrama confuso e cansativo, sem contar numa direção praticamente automática.
É a era da disco e Irving Rosenfeld (Bale) é um consignador de empréstimos para pessoas desesperadas e também um vendedor de obras de arte falsificadas, possuindo uma rede de lavanderias para, claro, lavar o dinheiro, além de ser casado com a explosiva Rosalyn (Lawrence) e adotando seu filho como enteado. Ironias do destino, Irv conhece a sensual Sydney Prosser (Adams) e esta paixão à primeira vista logo faz com que a moça seja uma ótima parceira para os seus negócios. À medida que os negócios prosperam e se tornam mais notórios, a ponto de fechar uma milionária transação envolvendo políticos e chamando atenção do FBI, mais precisamente seu agente Richie DiMaso (Cooper). Foi dada a partida para a enrolação que a narrativa está prestes a se tornar.
Em seus 138 minutos de projeção, “Trapaça” parece um novelão com tantos planos fechados que até parece que David O. Russel chamou nosso conterrâneo Jayme Monjardim para auxiliá-lo na direção dos planos, numa tentativa de intensificar ainda mais os conflitos (em sua maioria, amorosos) dos personagens, como se o elenco exemplar não pudesse dar conta do recado num enquadramento mais amplo. Não bastasse essa sensação quase claustrofóbica e a tensão sexual entre diálogos tão semelhante à teledramaturgia brasileira, Russel ainda mimetiza alguns dos traços característicos de Quentin Tarantino e Martin Scorsese quando, respectivamente, o prefeito Carmine Polito vivido por Jeremy Renner abre o porta-malas de seu carro para mostrar algo a Irving e quando este e companheiros se veem diante de um mafioso de Miami interpretado por Robert De Niro numa versão envelhecida de Jimmy Conway de “Os Bons Companheiros“. E quanto às atuações, a única instrução que Jennifer Lawrence parece ter recebido foi para agir como se estivesse concedendo mais uma de suas descontraídas (e até atrapalhadas) entrevistas, enquanto Christian Bale se acomoda, surgindo lento e usando sua voz arrastada, todavia até que carismático, ficando ao cargo de Amy Adams, Bradley Cooper e até Renner mostrarem que seus personagens possuem alguma profundidade interessante.
Se o filme possui méritos honrosos, eles se concentram principalmente nos figurinos de Michael Wilkinson (“O Homem de Aço“) que, entre tantas roupas extravagantes e bem adornadas, muito valoriza as silhuetas de Adams e Lawrence e reforça a personalidade de cada indivíduo na tela. A trilha musical repleta de clássicos da década de 1970 é outro destaque, variando de Duke Ellington, Bee Gees, Donna Summer e até Paul McCartney com seu hit Live and Let Die, entregando a Lawrence um de seus melhores momentos. Entre estas e outras poucas qualidades, é lamentável que “Trapaca” se perca num roteiro que se perde constantemente entre triângulos amorosos e um embaralhado plano de transações milionárias.
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