A terceira edição do Festival Internacional de Curitiba Olhar de Cinema trouxe algumas mudanças. Esse ano o projeto gráfico esse ano vem com um conceito onde a Olhares Papoulus Sapindales representa o questionamento sobre os frutos da plantação, cultivo e enraizamento do Festival e do próprio cinema. Baseando-se nisso, foram escolhidos, entre mais de dois mil títulos, 95 filmes de 17 países diferentes, distribuídos em 7 mostras ou categorias diferentes, entre longas e curtas metragens.

No ano passado acompanhei de perto a mostra Olhares Brasil, categoria competitiva voltada exclusivamente a filmes nacionais. Esse ano essa categoria sofreu uma mudança. Os filmes brasileiros que entraram na Competitiva foram mesclados aos filmes estrangeiros, e julgados pelo júri em pé de igualdade aos filmes dos demais países. Ainda assim a categoria Olhares Brasil permanece, não como uma mostra separada, mas sim como uma “sessão especial” somente para premiação, competindo nela somente filmes do Brasil, tanto longas como curtas.

Por conta dessa mudança na programação, procurei não acompanha uma única mostra, ao invés disso dei uma espiadinha em quase todas as categorias. Da mostra NOVOS OLHARES LONGA tive o prazer de assistir dois filmes ótimos Bloody Beans (Argélia, França) e O tempo passa como um leão que ruge (Alemanha). O primeiro trabalha a questão social na Argélia, de crianças num cenário de guerra. Já o segundo, que me agradou consideravelmente mais, fala sobre o tempo e o espaço, e a relação de tempo e espaço na vida do ser humano, mais precisamente na vida de um cidadão nascido na Alemanha, com expectativa de vida de 76 anos e meio. O filme possui exatamente 76 minutos e meio de duração, e no seu decorrer sentimo-nos envelhecer, amadurecer e os questionamentos propostos pelo diretor vão sendo absorvidos e apreendidos com uma familiaridade enorme. Um filme realmente singular.

 

 

 

Da mostra MULTIOLHARES CURTA assisti uma sessão somente, com cinco filmes: Tokio Giants, Politics, Backstage Porn, Shangaii Immigrant Self-Portrait, Malody, Trento Symphonia. Filmes muito arriscados e que possuem algum tipo de experimentação, seja narrativa, seja técnica.

Em OUTROS OLHARES me diverti muito. Foram os filmes mais leves e mais empolgantes, no sentido de animadores. O espanhol The Creator of the jungle me fez esquecer do mundo, fez minha vida perder o sentido de viver. Quase saí do cinema e fugi de casa. Já o brasileiro Amor, plástico e barulho foi mega divertido! Foi a sessão mais leve e alegre de todas, na minha opinião. Se o anterior me fez refletir sobre minha vida banal, esse me fez quase cultuar essa banalidade e prestar atenção no que é muitas vezes desdenhado pela maioria. Situada em Pernambuco, mostra uma faceta do país que nós aqui do sul quase não vemos. É simplesmente empolgante. Resumindo o filme em uma frase: ao fim da sessão, o filme fez os curitibanos que estavam na sala de cinema dançarem. Nada mais.

Na COMPETITIVA tivemos dois filmes nacionais, Branco Sai, Preto Fica e A vizinhança do Tigre, ambos abordando questões sociais, tanto de preconceito quanto de perspectiva de vida de um modo meio geral. As duas obras possuem um olhar peculiar sobre os assuntos que abordam e são ambos tocantes, sensíveis e maravilhosos. Difícil dizer qual é o meu favorito. Eles estavam competindo com outros filmes estrangeiros, entre eles Sheep, um filme francês desses lentos, com pouca ação, mas com uma questão profunda a respeito do ser humano, e o Finlandês How to disapear completely. De curtas, da COMPETITIVA ainda assisti A Chamada, Laborat e The Incomplete. Esse último sem sombra de dúvidas o melhor dos três, um documentário a respeito de um alemão de 60 anos de idade, gay e escravo. Muito tocante, para dizer o mínimo.

Ainda falando de curtas, o Festival exibiu uma série de filmes paranaenses. Filmes em sua maioria realizados por estudantes de cinema na cidade de Curitiba, e que abordaram temas variados, desde a questão de gênero até um terror/suspense fantástico. Pude assistir ao primeiro programa de curtas, composta por Trans*Lucidx, Autoridade, Jonni Driver, Para onde foram os pássaros?, Carcaça. Esse último é um vídeo-dança do coletivo Na Janela, onde dois dançarinos exploram com seus corpos um prédio antigo e abandonado.

Além dessas mostras, ocorreram também OLHAR RETROSPECTIVO, onde foram exibidos os filmes do diretor Stanley Kubrick em cópias recém restauradas e em alta resolução, OLHAR ITINERANTE e EXIBIÇÕES ESPECIAIS. Não tive a oportunidade de presenciar nenhuma sessão dessas categorias, porém pelos corredores, entre uma exibição e outra, o público em geral mostrou-se muito satisfeito com relação aos filmes.

E para encerrar o festival, ocorreu na noite da última quinta-feira, dia 05 de junho, no Teatro do Paiol a cerimônia de premiação, que só fez a reforçar o caráter do Festival. Em um ambiente consideravelmente menor do que o Teatro Guaíra (onde as cerimônias de encerramento das edições anteriores ocorreram), a noite perdeu o ar de formalidade e ganhou um clima de aconchego e familiaridade. A proximidade do público com os artistas que subiam ao palco para receber suas premiações só fez lembrar a proximidade com que o público ficou dos realizadores, diretores, convidados e com os próprios organizadores do festival durante os nove dias de programação. Foi um encerramento com chave de ouro, um momento para relaxar e relembrar os bons momentos dessa overdose de filmes.

Os diretores criativos do Festival, Aly Muritiba, Antonio Junior e Marisa Merlo expressaram sua alegria e contentamento com os resultados. Foram mais de oito mil e quinhentas pessoas, com sessões lotadas, debates, discussões, contatos, emoções. E encerraram seu discurso prometendo para o ano que vem a 4ª edição do Festival Internacional de Curitiba Olhar de Cinema.

Os premiados da noite foram:

Mostra Competitiva Longa

Prêmio Olhar de Melhor Filme – E Agora? Lembra-me, de Joaquim Pinto, PORTUGAL.

Prêmio Especial do Júri – Branco Sai Preto Fica, de Adirley Queiróz, BRASIL.

Prêmio de Contribuição Artística – Sheep, de Marianne Pistone e Gilles Deroo, FRANÇA.

 

Mostra Competitiva Curta

Prêmio Olhar de Melhor Filme – Verona, de Marcelo Caetano, BRASIL.

Prêmio Especial do Júri- The Incomplete, de Jan Soldat, ALEMANHA.

Prêmio de Contribuição Artística – That I’m Falling, de Eduardo Williams, FRANÇA.

Menção Honrosa – A Chamada, de Gustavo Vinagre, BRASIL.

 

Mostra Novos Olhares

Prêmio Novo Olhar – From Gulf to Gulf to Gulf, de Shaina Anand e Ashok Sukumaran, ÍNDIA.

Menção Honrosa – O Tempo Passa Como um Leão que Ruge, de Philipp Hartmann, ALEMANHA.

 

Prêmio Olhares Brasil (Curta) para Melhor Curta Metragem Brasileiro da Mostra Competitiva e Outros Olhares Lição de Esqui, de Leonardo Mouramateus e Samuel Brasileiro.

 

Prêmio Olhares Brasil (Longa) para Melhor Longa Metragem Brasileiro da Mostra Competitiva, Outros Olhares e Novos Olhares – Branco Sai Preto Fica, de Adirley Queiróz.

 

Prêmio da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema – A Vizinhança do Tigre, de Affonso Uchoa, BRASIL.

 

Prêmio do Público (longa) – My Class, de Daniele Gaglianone, ITÁLIA.

 

Prêmio do Público (curta) – Coice no Peito, de Renan Rovida, BRASIL.

 

Mais informações em www.olhardecinema.com.br

 

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