Durante a década de 1970 a declarada “Nova Hollywood” trouxe para o cinema um jeito nunca antes visto de se fazer e assistir filmes, surgiram ali nomes como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Steven Spielberg e George Lucas. Após a extinção do Código Hays, que exigia que os filmes evitassem a empatia entre personagens condenáveis e o público, o cinema foi invadido por anti-heróis que marcaram época e são ícones até os dias de hoje, como é o caso de Don Corleone em “O Poderoso Chefão”.
Desde então o diretor Martin Scorsese nunca se desapegou destes heróis ao avesso e em “O Lobo de Wall Street” conta a história real de Jordan Belfort, um homem simples que sonha grande e é corrompido pelo poder e as facilidades que o sucesso e o dinheiro de Wall Street lhe trazem. Superficialidade e materialismo se tornam, então, características que Jordan exibe com orgulho.
O estilo de vida daqueles que trabalham na região que é uma das mais poderosas do mundo não é um tema novo no cinema. Os danos morais do dinheiro e a ambição sem limites do ser humano já eram assuntos abordados desde “O Lobo da Bolsa”, filme que estreou em fevereiro de 1929, antes mesmo da Quebra da Bolsa naquele ano, até o clássico de Oliver Stone, “Wall Street: Poder e Cobiça” (1987) e sua continuação “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” (2010).
Dessa vez, porém, a história é um pouquinho mais inusitada, já que a trama vem de um livro escrito pelo próprio Jordan Belfort, quem narra suas aventuras e desventuras, do seu início inexperiente, ao topo da fama e riqueza até seu declínio alguns anos depois. Cada etapa recebe a atenção devida e nenhum detalhe é poupado, sórdido ou não. O retrato consciente e sincero dá abertura para uma abordagem cômica que é bem aproveitada por Scorsese, mesmo nas passagens mais tensas, incômodas ou sexuais.
Cenas fortes, inclusive, nunca foram problema para o diretor, que adora pegar um marginalizado por Nova Iorque que deixa sua ambição o levar por caminhos tortuosos e cheios de eventos chocantes. É o caso em “Táxi Driver” e “Touro Indomável”, dois de seus maiores sucessos, assim como em seu Oscarizado “Os Infiltrados”. Cenas estas que são sempre acompanhadas por uma forte trilha sonora capaz de impactar e manter o ritmo ágil dos cortes rápidos de sua câmera. Técnica que novamente vem a calhar em “O Lobo de Wall Street” conforme este acompanha os grandiosos fatos da vida de Jordan Belfort, contados em 180 minutos de filme, duração que só um gênio como Scorsese seria capaz de fazer passar praticamente despercebida.
Jordan tem o carisma e a confiança de um líder, comanda seus funcionários e quem quer que deseja enganar com classe e um sorriso conquistador. Habilidades perfeitamente executadas por um Leonardo DiCaprio que parece se sentir em casa ao realizar seu quinto filme em parceria com o diretor. Já Jonah Hill apesar de não ser tão experiente no gênero dramático, provou sua capacidade e diversidade ao lado de Brad Pitt no longa O Homem que Mudou o Jogo (2011) e novamente usa seu timing humorístico nos momentos que o filme precisa. No elenco vale também o destaque para Matthew McConaughey, o nome da hora em Hollywood, que faz uma pequena, porém fundamental participação como o grande mentor de Jordan.
Ajudados por vezes pela quebra da quarta parede que permite um tipo de conversa mais íntima entre personagem e espectador, Leonardo DiCaprio e Jonah Hill, Jordan Belfort e Donnie Azoff, conquistam clientes, mulheres, o mundo dos negócios e o público. No melhor estilo John Dillinger de ser, estes fora da lei americanos ganham a atenção e simpatia de quem testemunha esta história, incapaz de não embarcar nesta jornada maluca e aproveitar cada segundo ao lado deles.
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