Lembro como se fosse ontem quando meu irmão me deu de presente um VSH de “O Pateta: O Filme“. Era meados de 98, eu ainda não tinha tido nenhum contato com Cinema, até então. Aquele filme, tão simples, e que anos depois, numa revisão mais consciente, se mostrara bem menos singelo do que eu pensava, de imediato ganhou minha atenção. Anos e anos repetindo aquela fita, decorando os números musicais, e aprendendo com um desenho animado um pouco mais sobre respeito e amor fraterno. Aqueles personagens, sem dúvidas, foram uns dos responsáveis pela minha construção quanto indíviduo. Depois de muitos anos, e muita coisa que absorvi de filmes como “Toy Story“, “O Rei Leão“ e “Wall-E“, as animações se tornaram basicamente um espelho moldulador do que eu pretendia ser. Buscar nos atos singelos de personagens que pareciam querer tão pouco, mas ao mesmo tempo algo quase impossível de ser conquistado, foi, ao longo dessa minha jornada cinéfila, experiência tão assustadoramente reveladora, que a identificação com aqueles personagens se resume a um processo de autoconhecimento.
Não é desdém, então, quando digo que Hollywood parece ter perdido sua áurea de maior responsável pelo amor cinéfilo infantil. Produções que parecem tão somente preocupadas em subverter lições morais, ou serem meramente o blockbuster da temporada; dá pra se contar nos dedos as animações feitas em Hollywood desde “Wall-E“ de 2008, que souberam tratar suas microtramas com total honestidade, a ponto de eu conseguir criar algum tipo de laço com seus personagens. Entretanto, felizmente, existe uma parcela de realizadores de estúdio que não está preocupada somente com questões comerciais.
Dean DeBlois, um dos responsáveis por “Como Treinar Seu Dragão“, e que agora assume sozinho a sequência – muito bem vinda, aliás – do filme, é parte dessa parcela. Sem perder aquela textura simplista do primeiro filme -que continua um dos mais irretocáveis coming-of-age já feitos-, a sequência “Como Treinar Seu Dragão 2” trás soluções pouco menos específicas, e se volta agora para um conflito de Soluço quanto indivíduo em sociedade, e suas responsabilidades diante dela. Engendrando os conflitos interpessoais do personagem em pinceladas sutis de tradicionalismo, a direção de DeBlois é feita num piloto automático, na intenção de deixar que o personagem transite e se relacione com total liberdade e autoconhecimento. Essa faceta de DeBlois em se conter diante da personalidade do protagonista poderia soar totalmente relaxada, não fosse a singularidade do realizador em usar artifícios-arquétipos morais como um recurso estrutural do mesmo. Dean DeBlois não esconde sua característica classicista, e a ternura de Soluço e Banguela, desenvolvida irretocavelmente lá no primeiro filme, continua sendo o elo principal para que o filme se torne inevitavelmente essa peça rara dentro do nicho. Ademais, existe aqui uma intenção para além da engenhosa metáfora do título, que reflete aquilo que eu disse no começo, sobre essa inflexão causada pelos atos brutalmente honestos desses personagens que se tornam a medida que o acompanhamos esse espelho de sentimentos tão reais. E só por não manipular minhas emoções com efeitos baratos, “Como Treinar Seu Dragão 2” já tem lugar guardado na minha memória cinéfila.
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Crítica 01 | “Como Treinar Seu Dragão 2“, por Isabele Orengo
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Notícias | Rodrigo Lombardi dubla “Como Treinar Seu Dragão 2“
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