Desde quando ganhou notoriedade como co-diretor de “A Era do Gelo”, Carlos Saldanha, hoje um dos mais bem sucedidos diretores brasileiros na terra do Tio Sam, aderiu à indústria hollywoodiana em sua forma literal. Suas franquias, ainda que dividem opiniões, arrecadam montes de dinheiro mundo à fora. E foi colhendo os louros do sucesso de público e crítica de “A Era do Gelo” que, em meados de 2011, Saldanha resolveu arriscar o potencial de um filme com temática tupiniquim numa grande produção ianque. O resultado foi para além de satisfatório, em termos de bilheteria pelo menos, e “Rio”, a animação da arara azul falante que se muda para o Rio de Janeiro e conhece o amor de sua vida, trazendo a clássica idealização das comédias românticas de casais de realidades opostas, com um leve toque de conscientização ambiental, se tornara instantaneamente um marco na carreira do carioca.
Não fugindo muito do que o primeiro longa explorara, e permeando o formato narrativo dos esquetes, eis que em pleno ano da Copa do Mundo no Brasil, Saldanha, sendo o grande oportunista que é, trás de volta às telas a continuação marqueteira (e cheia de boas intenções) para as ararinhas cantantes. “Rio 2” não faz muita questão de fugir do óbvio (a não ser pelo fato da sequência se passar agora na Amazônia!) e Saldanha usa e abusa de maneirismos pra criação de personagens involuntários, naquela velha fórmula hollywoodiana para manter a tênue sucesso-boa recepção. Diálogos quase sempre fáceis, e carregados de mensagens auto importantes são a base de diversas (sub)tramas que compilam a narrativa da continuação, que até se esforça pra se justificar crível, mas, como já havia sido provado com “Rio”, não possui muita sensibilidade com a causa que cultua, tampouco com a realidade que retrata.
Para além dos incontáveis personagens, e números musicais esteticamente deslumbrantes, a faceta essencial do projeto de “Rio”/“Rio 2” em relação a conscientização social e ambiental das araras (e da própria Amazônia), numa realidade pouco explorada pelo mercado cinematográfico de massa, acaba se submetendo a superficialidade pela falta de tato ou desenvolvimento sustentável dentro do universo de final feliz concebido por Saldanha. Num filme que mais parece um tutorial de como ser equivocado do que uma propaganda gratuita da Copa do Mundo, Saldanha apenas elucida o que o recente “Robocop”, de José Padilha, havia salientado sobre o mercado brasileiro estrangeiro e a necessidade inconspícua da boa imagem (nacional), através de um cinema (sem identidade – própria ou cultural) que nem nosso é por excelência.
Mais informações:
Crítica 02 | “Rio 2“ por Fran Lima
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