“O Mestre” marca o retorno do cineasta Paul Thomas Anderson após a consagração do seu filme anterior, o magnífico “Sangue Negro” de 2007. Neste novo trabalho ele continua o mesmo estilo desenvolvido no longa anterior: o clima de estranheza é acentuado pela trilha sonora dissonante de Johnny Greenwood (guitarrista do Radiohead) e pelos enquadramentos esquisitos. O cineasta tem interesse em tirar o espectador da sua zona de conforto: cenas importantes são rodadas em closes intensos (como a primeira “sessão” de Freddie), algumas situações são bastante estranhas e a tensão de alguns momentos é levada até o limite (como a briga entre Freddie e o coitado que só queria tirar uma foto). O ponto de vista do cineasta sempre foi diferenciado e incomum, e em “O Mestre” ele cria mais uma história marcante, com personagens fortes e incrivelmente humanos.
A trama é levemente baseada na vida do escritor responsável pela criação daquela religião conhecida como Cientologia, que tem Tom Cruise como um de seus adeptos mais famosos. Porém, sinceramente, o culto apresentado na obra pela alcunha de A Causa, é apenas um mero detalhe para o desenvolvimento do personagem de Phoenix. Verdadeiro pudim de cachaça, pervertido e agressivo, Freddie Quell (Joaquim Phoenix) é “adotado” pela família do religioso Dodd (Phillip Seymour Hoffman) e passa por diversas transformações. O roteiro presenteia o espectador com um verdadeiro choque de dois homens que se completam, entre as diferenças e semelhanças.
É interessante perceber que o roteiro trata a seriedade da religião ficcional de forma dúbia. Enquanto temos profundas regressões de um lado, em outro vemos grupos em uma óbvia sessão de lavagem cerebral, que tenta lhes convencer de que não são animais bestiais e que possuem o controle sobre a negatividade que parece inerente a todo ser humano.
Já quando Lancaster tem suas ideias questionadas ou mesmo cientificamente refutadas, ele logo trata de lançar frases aleatórias, de teor tecnocrata e de resoluções absurdas. Seus tratamentos, em especial os que envolvem Quell, não possuem sentido algum, e quando se finalizam, não concretizam nada – mesmo assim, compelido pelo carisma do mestre, Quell se torna um membro importante da Causa, que instintivamente se mostra intimidador com aqueles que tentam difamar sua nova unidade.
Ao se concentrar na relação entre mestre e discípulo, Quell e Dodd, o filme termina sendo uma história de pai e filho, um tema recorrente na filmografia de Paul Thomas Anderson. Nos trabalhos do cineasta, os pais e filhos ora se separam, ora se aproximam. Em “O Mestre” isso também ocorre, mas aqui eles têm a loucura como traço em comum, e um exerce influência sobre o outro. É mais um filme sem igual, difícil e muito estranho, mas que aborda com precisão a eterna busca do ser humano por um sentido para a existência.
Independente da interpretação que você tiver assistindo ao trabalho mais recente de Anderson, é certo que será recompensado com três interpretações brilhantes. Para quem acredita que uma boa atuação é mais que metade do necessário para um filme ser considerado bom, “O Mestre” têm três grandes motivos para merecer sua atenção, além de um trabalho impecável da trilha sonora e do diretor. “O Mestre” é um grande filme e com certeza, crescerá ainda mais durante uma revisão.
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