Marc Forster sempre foi um diretor razoável, mas isso nunca impediu que seus filmes dividissem opiniões. Assumidamente versátil, já fez thriller psicológico, blockbuster de ação, filme de zumbis, drama, enfim, arriscou inúmeras vezes seu potencial mostrando que mesmo não muito assertivo é bastante corajoso. Dentre seus longas mais interessantes está “Em Busca da Terra do Nunca”, que possivelmente é o filme que melhor traduz suas facetas quanto realizador. A obra em questão é uma dessas experiências tipicamente hollywoodianas, mas que concretiza cada ambição narrativa e estética sob total controle da tênue contemporânea que segue. Forster imprime aqui sua melhor característica, já que mesmo pouco substancial, o diretor consegue criar camadas à narrativa que dão total liberdade ao elenco (e a ele mesmo) de perpetuar o melodrama e a fábula clássica com sutileza genuína, no melhor estilo spielbergniano.
Baseado na peça de Allan Knee, “O Homem Que Era Peter Pan”, a semi-biografia de J.M Barrie, o escritor que ao se envolver com uma família marcada por perdas e enfermidades é inspirado à criar o conto de “Peter Pan“, hoje um clássico, é retratada por Forster dentro das possibilidades da fantasia do texto de David Magee, ao mesmo tempo que concebe uma visão sobriamente realista junto à narrativa. Emprestando o que de melhor Johnny Depp tem a oferecer para a criação dum personagem cheio de si, o filme permite ao espectador compreender os personagens que o cercam sem a necessidade de efeitos melodramáticos carregados ou maniqueísmos, que costumeiramente são impressos às biografias cheios de boas intenções. Não que “Em Busca da Terra do Nunca” seja um perfeito retrato do que existe por trás (ou mesmo dentro) do conto de “Peter Pan“, mas é explicitamente elucidativa a forma como Forster e elenco convidam o espectador a adentrar a esse universo. Tão ingênuo quanto sádico, o que “Em Busca da Terra do Nunca” proporciona é excepcionalmente uma experiência cinematográfica pura, a qual se realiza com toques sutis de ingredientes que vão desde a prepotência domesticada da estética de seu realizador até o emocional expresso pelo elenco juvenil em contraste com a máscara adulta. Ao passo que Johnny Depp, em uma de suas melhores personificações, concerne tanto um estudo de personagem, quanto uma perspectiva dum coming of age subversivo, o ator, ao se livrar de cacoetes e do coqueluche Jack Sparrow para a criação de Barrie, condensa aqui uma performance limpa e delicada, e que através da visão cuidadosa de Forster, dá o tom agridoce à narrativa do filme.
Talvez pela falta de elementos carregados de virtuosismos que consistem boa parte da filmografia do Marc Forster, o que mais me agrada no trabalho do diretor nesse “Em Busca da Terra do Nunca” é sua total dedicação à trama, independente de efeitos colaterais ou pré-julgamentos que concernem os personagens ou a própria fábula de “Peter Pan“. Forster, em seu momento mais centrado, realiza aqui um exercício de cinema sem fetiches ou saturações, que mesmo subestimado, leva a crer que o diretor, com ou sem escolhas equivocadas, sendo um produto hollywoodiano ou não, ainda é um dos poucos realizadores dessa era a ter pé no chão e acreditar no que faz. E não existe característica melhor num realizador do que a convicção em suas escolhas.
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