Quando penso em algum filme que me desperte a sensação de “já estamos no Natal” minha mente viaja para mais ou menos uns 26 anos atrás. Pode parecer estranho, mas estou chegando à conclusão de que meu filme de Natal é “Edward Mãos de Tesoura“.
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Sim. O filme tem elementos de Natal em cena. A neve, as esculturas de gelo, as bolachas de Natal e, talvez, o primeiro 25 de dezembro de Edward (Johnny Depp). Mas um simples exercício de aprofundamento nas minhas memórias me leva a um elemento distante dos nossos olhos: as músicas.
A história parece mais macabra do que digna de representar um conto de Natal, mas a trilha sonora original do filme não representa isso. Sabe o que eu sinto? Um misto de curiosidade, mistério e esperança. Não acha?
As músicas me provocaram. Por quê nos fazem sentir o que sentimos? Por quê não são faixas que traduzem a “estranhisse” e o mundo macabro e desconhecido de Edward? Por quê são músicas quase angelicais? Por quê uma referência aos coros natalinos e católicos? Todas essas perguntas me levaram a uma breve teoria.
O enredo parece simples: homem criado com tesouras no lugar das mãos encanta e muda a rotina de uma cidadezinha.
Vamos aprofundar isso?
Edward é idealizado a partir de um coração feito de bolacha de Natal e uma máquina de cortar saladas. Do criador conhecemos pouco. Não sabemos o motivo de morar em uma casa estranha no alto da colina, mas identificamos uma bondade quase imediata ao conhecermos ele. E dele vem a esperança, talvez, de uma criação que pudesse representar uma boa e pura companhia, educado com as mais requintadas etiquetas e nobres conhecimentos.
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O inventor morre pouco antes de finalizar a obra. As mãos, elementos que completariam a essência física humana à Edward, não chegam a ser implantadas. Mas o inventor talvez soubesse que as mãos não eram o essencial aqui. O trabalho já estava concluído. Edward podia não ter uma aparência completamente humana, mas tinha sim a essência que deveria ser de todos os humanos.
Ele tem, então, uma oportunidade de descer. Descer a um mundo que havia sido preparado para conhecer. A chance aparece com uma mulher, Peg, que não julga e parece não estranhar o fato de alguém ter sido criado sem a necessidade dos meios biológicos tradicionais. Não estranha também as mãos de tesoura. Só vê a bondade e tenta criar Edward como um filho.
A partir desse momento, a beleza e a fantasia do nosso mundo é que ficam evidentes para Edward. Tudo é novo, todos são gentis e a bondade de Edward parece ter lugar naquela vizinhança. Aos poucos descobre, na verdade, um mundo mais complexo e corrompido do que aquele para o qual tinha sido criado.
Edward é julgado, manipulado, apedrejado. O mundo se torna contra ele e, em um certo momento, a própria mãe adotiva pede que ele volte “para casa” – a de onde ele veio.
Mesmo com um fim trágico, não há dúvidas de que Edward mudou a vida da pacata cidade. E não mudou para pior. Deixou exemplos de sua bondade, inocência e jeito peculiar de ver as coisas. Kim, a menina por quem Edward se apaixona, é a prova viva dessa transformação.
É ela quem mantém uma certa esperança de que ele ainda esteja vivo ao deduzir que a neve, que nunca havia caído na cidade antes da passagem de Edward, é resultado do processo de esculpir gelo que a criatura com mãos de tesoura praticava.
Quem não se lembra da cena em que Kim dança na neve? Neve que, aliás, é o principal legado de Edward para as famílias daquele subúrbio. Exalta e mantém viva a magia do Natal com um elemento tão significativo para uma das principais datas comemorativas do ano.
Veja. Os detalhes desses parágrafos acima servem para fundamentar a teoria, que vem agora. Por mais que a verdadeira inspiração de Tim Burton (criador do personagem e diretor do filme) fosse a infância que ele teve em uma cidadezinha americana, arrisco a dizer que a proposta do roteiro foi um pouco mais além.
Alguns vão achar uma blasfêmia, mas eu conto a minha teoria mesmo assim. E se Edward representasse a figura de Jesus Cristo? E se o criador fosse, na verdade, O Criador? E Peg? Poderia ser interpretada como Maria, que deu a luz a uma criança que “não era dela” e mesmo assim aceitou cumprir a missão a que tinha sido designada?
Claro que vários acontecimentos do filme não casam com a proposta bíblica, mas ainda assim vejo certa relação entre vários elementos e a verdadeira história que deu origem ao Natal. E aí, talvez o verdadeiro objetivo do filme seja enaltecer o espírito, a fantasia, o mistério e a esperança que o Natal nos traz.
As músicas nos levam a isso e espero que o filme também.
*Em tempo: Danny Elfman, responsável pela trilha sonora original do filme já declarou que considera as músicas de “Edward Mãos de Tesoura” as mais pessoais e favoritas que já compôs.
**Em tempo 2: Tem uma playlist exclusiva do filme lá no Spotify do Cinematopeia. Clique e ouça!
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