Levando em conta que estamos em tempos de ~avisos~, abro um parêntese aqui ~avisando~ que esse texto pode conter spoilers sobre a trama do novo “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido“, então fica a seu critério continuá-lo lendo.
Talvez o filme com as mais altas expectativas pelos fãs no ano, esse novo capítulo da saga iniciada por Bryan Singer no começo da década passada – e repaginada por Matthew Vaughn em “Primeira Classe” – parece de fato ser um episódio especial – a fim de arrancar uma boa dose de lágrimas dos mais assíduos pelos mutantes marginalizados. Numa trama que não esconde sua absoluta irrelevância quanto uma nova tentativa de salvar o futuro do planeta (apesar da ameaça aqui ser um efeito colateral da ação dos seres humanos sob os mutantes), o roteiro surpreendentemente engendra sentimentos particulares daqueles seres mutagênicos num retrato significativo sobre o reflexo de suas ações na preservação de humanidade (tão pouco) existente. Por essa caracterização particularmente humana dos X-Men, a qual distancia-os duma visão heroica comum, o filme de Singer, e principalmente a facilidade do elenco em estabelecer sentimentos tão distintos e particulares, potencializa a seriedade cabível ao enrendo de “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”, fazendo-se crível a presença de gerações diferentes de mesmos mutantes, para além do espetáculo deslumbrante de um grande elenco compartilhando a tela juntos.
Num desenvolvimento narrativo bem amarrado, que de fato parece um episódio particular da saga de Charles e Erick, a ideia de co-relacionar as gerações de X-Men dos filmes de Singer com a empreitada de Matthew Vaughn assume aqui uma arriscada perspectiva para quem nunca teve contato com a história dos mutantes, mas que pelo fato de os personagens de X-Men serem concebidos aos moldes de sentimentos tão particularmente humanos, seja por sensações que remetem àqueles anos no colegial onde você se sentia um verdadeiro mutante dentre “as pessoas normais”, ou pela eventual descoberta de si mesmo num período traumático, a facilidade de conexão com a trama e personagens de “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” se torna inevitável, especialmente pela versatilidade do elenco. Entretanto, quem esperava por uma atmosfera semelhante a dos dois (ainda melhores) filmes dos X-Men dirigidos por Singer, acaba por encontrar aqui distanciamento notável da cinematografia em contraste aos personagens. O deslumbramento de Singer pela tecnologia 3D se por um lado é uma virtude estética bem resolvida, por outro acaba apenas servindo de muleta pra uma eventual sequência de ação (manjada), desproporcional dentro do contexto da narrativa, soando apenas como um alívio estético concomitante cômico, que os mais assépticos dirão fazer parte da construção de um blockbuster como X-Men. Ok, pode até ser por isso, mas convenhamos que Bryan Singer sabe melhor, né? Diretor que sempre soubre combinar doses de entretenimento com a seriedade de seus filmes, vê-lo se vendendo para tais artifícios é no mínimo decepcionante.
Não que “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” seja completamente equivocado, pois o elenco realmente está bem inserido na trama, e qualquer filme do Bryan Singer é melhor que a filmografia inteira do Brett Ratner, mas analisando-o num contexto especificamente cinematográfico, o filme não faz questão de se auto-inovar em quase nenhum aspecto, já que estão lá a mesmas caricaturas cômicas, os mesmos efeitos discursivos e a mesma diluição daquilo que conhecemos por blockbuster. Singer parece confortável na zona-de-conforto-de-filmes-de-HQ’s, quais sempre assumem aquele argumento do crível de experimentação, que talvez funcione com o tempo –aqui, por exemplo, por ser um filme auto-reflexivo-, mas que numa primeira impressão é encoberto por dúvidas insolúveis.
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