É sempre difícil eu escrever sobre qualquer filme baseado em algum livro do Nicholas Sparks já que nunca fiz muita questão de conhecer sua obra profundamente. Dos cinco ou seis filmes que vi baseados na obra do escritor, acredito que a principal ideia absorvida foi de seu teor expressamente comercial, visto que seus filmes se tornaram quase um subgênero pro romance cinematográfico. São tramas quase sempre idênticas, estreladas por pessoas brancas, onde, basicamente, um homem conhece uma mulher, ambos se apaixonam, a mulher é submetida a uma relação de idealização masculina de amor, existe um conflito amoroso, há a resolução desse conflito, eles vivem felizes para sempre (apesar das dificuldades da vida compartilhada).
Sendo essa premissa o que, também, mantém boa parte do gênero nos grandes estúdios de Hollywood, e qual poucos foram a fundo de entender suas próprias matrizes (Douglas Sirk, Leo McCarey, Richard Curtis, pra citar meus autores favoritos), felizmente, o romance água com açúcar parece estar trilhando caminhos diferentes no que diz respeito a construção dos personagens (pensar a fórmula é sempre bom pra entender a ideia central de um filme). Nesse sentido, por exemplo, analisar “Questão de Tempo” do Richard Curtis como sendo um filme que reprima a mulher por colocá-la numa ideia do que é a vida segundo um jovem rapaz que consegue voltar no tempo para consertar seus erros é, no mínimo, menosprezar a capacidade autoral de um diretor que construiu uma identidade muito própria ao tentar desvendar, através do romance, a vida e as relações interpessoais.
“Uma Longa Jornada“, no entanto e infelizmente, parece só tocar na superfície do que deveria ser essa ~renovação~ do romance. Não que eu espere um estudo de gênero de um filme do Sparks, mas já é uma grande (r)evolução ver que ao menos exista um interesse (embora ainda suprimido por necessidades comerciais) de intervir na relação de personagens, os construindo quanto indivíduos independentes, sujeitos a conflitos sólidos e reais, não apenas maquiando-os através de diálogos verborrágicos e de teor explicitamente alienado. Ainda que esteja longe de ser um filme minimamente interessante, de qualquer ponto de vista, tanto por se tratar exclusivamente de uma releitura do Nicholas Sparks, ou por George Tillman Jr não aproveitar suas referências (é o filho do Eastwood quem protagoniza!), “Uma Longa Jornada“, involuntariamente, utilizando de elementos metalinguísticos que refletem bem mais sobre como a obra de Sparks está atrasada, abre uma porta para refletir o conto romântico do ponto de vista humano. E só por isso já vale o esforço de escrever algo sobre.
Não deixe de conferir as novidades do CineOrna através das nossas redes sociais:
Facebook | Twitter | Filmow | G+ | Instagram | Tumblr | Pinterest | YouTube