É usual que cinebiografias tenham uma visão bem particular de fatos reais. As vezes o simples ato de contar uma história se torna algo bem mais profundo do que a realidade quando transportado para o cinema. Uma história ganha elementos e contrastes que pareciam estar ocultos em relação a veracidade. Em “Straight Outta Compton: A História do N.W.A.” de F. Gary Gray esses elementos são parte essencial para se compreender a importância histórica e cultural do N.W.A. 

O N.W.A. é um grupo que dispensa apresentações, mas sua a trajetória não se transformou num dos grandes emblemas da cultura hip-hop nas últimas três décadas a toa. Considerados o grupo ‘mais perigoso do mundo’, eles ultrapassaram barreiras ao lançar o clássico disco Straight Outta Compton, em meados de 1989. Relatando com realismo o estilo de vida dos guetos de Compton e a rotina cruel e violenta do negro da periferia, Easy-E, Ice Cube, Dr. Dre, DJ Yella e MC Ren criaram um híbrido de anarquismo e ritmo e poesia que viria a ser o DNA recombinante do rap americano nas décadas seguintes. Logo, se torna necessária uma cinebiografia do grupo, não apenas para dialogar com a atual situação dos Estados Unidos, mas também para engendrar tudo aquilo que compreende a cultura negra norte-americana. Nesse sentido, é interessante como F. Gary Gray converge a estrutura padrão de uma biografia com vários elementos (política, sociedade e individualidade) que dão uma visão mais ampla do grupo quanto interlocutor do contexto histórico no qual estavam inseridos.

Embora num ritmo pouco inebriante, “Straight Outta Compton: A História do N.W.A.” consegue construir-se com sutileza imprescindível e acaba sendo bem mais sobre resgatar um sentimento de injustiça/auto representação, que se intensificam a medida que vamos descobrindo personagens bastante distintos e humanizados (as sequências finais entre O’Shea Jackson e Jason Mitchell tem uma mensagem social bastante singela), do que a história de um grupo emblemático fadado ao dualismo do estrelato.  

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