Já diria o ditado popular: pai é quem cria! Seguindo esse pretexto, “Não Aceitamos Devoluções” tem em seu enredo a história de um típico solteirão que, relutante a responsabilidades, precisa lidar com a chegada de um bebê deixado em sua porta, aprendendo o significado de se sacrificar e desfrutar da felicidade da criança com o passar dos anos. Narrativa essa que costuma se repetir na indústria hollywoodiana de vez em quando, sujeita a todos os tipos de clichês e até mesmo ao esquecimento, todavia, o filme de Eugenio Derbez é carregado de bons momentos e muitos deles nos tomam de surpresa, tornando-se uma experiência encantadora.

Valentín Bravo (Derbez) é um morador de Acapulco que não faz nada a não ser xavecar as gringas que passam pelo México e levar pra cama sem compromisso. Quando conhece a americana Julie (Jessica Lindsey), a química entre os dois parece ser mais forte e, não por engano, vinte meses depois a moça reaparece na porta do rapaz com uma menina de menos de 1 ano, entregando nos braços de Valentín e sumindo depois disso, deixando poucos vestígios a não ser uma foto e uma carta contando sobre o nome da filha. Transtornado, o preguiçoso – e medroso, todos os seus desafios surgem na forma de lobos – pega a estrada (a pé, para economizar) a fim de ir atrás de Julie nos Estados Unidos e devolver a criança. Claro que ele teria que lidar com os problemas de trocas de fraldas e mais adiante o problema do visto para entrar na Terra do Obama, até que a chance de mudar de vida aparece quando a pequena Maggie corre risco de afogamento e Valentín não vê outra alternativa a não ser salvá-la, gerando um forte elo entre pai e filha e até mesmo uma excelente, porém perigosa, oportunidade de emprego pra ele.

Seis anos depois, Valentín é um dublê em filmes de ação, garantindo uma vida estável para Maggie (Loreto Peralta, ótima e carismática revelação) e a união dos dois não poderia ser melhor, embora a menina falte constantemente às aulas e o pai se recuse a estudar inglês mesmo depois de um bom tempo vivendo em Los Angeles. Maggie não tem o que reclamar de falta de diversão e carinho por parte de pai, ainda que conheça a mãe apenas por cartas envolvendo contos fantasiosos e fotos montadas com vários famosos. Mais problemas vão se acumulando e Julie reaparece na porta da família Bravo de forma amigável e querendo se reaproximar da filha, mas ao se deparar com o hábito de vida de Valentín, a advogada fará de tudo para conseguir a guarda de Maggie, recorrendo até mesmo à ajuda de sua companheira (horrivelmente vilanesca).

O filme tem um formato próximo ao da teledramaturgia mexicana (com uma forte dose das comédias de Hollywood), seja pela sua recorrência a vários personagens na trama, como pela iluminação bem difusa e a trilha sonora excessivamente alta e melodramática, mastigando todas as emoções para o espectador reagir conforme o andamento da narrativa. Algumas piadinhas soltas pelo porteiro do prédio que, se no início soam engraçadas, logo cansam devido a sua fraca reciclagem, ficando ao cargo de Derbez (que co-escreveu o roteiro) fornecer momentos de originalidade. Se a primeira parte do filme flui com um ritmo bastante gostoso de acompanhar, com incidentes ágeis e engraçados, além de personagens com tempo de tela apropriado, a outra metade fica sobrecarregada de conflitos exaustivos e um certo número de cenas desnecessárias, embora ajudem a mascarar o mistério de Valentín que levará ao desfecho, digno de lágrimas.

 

 

Como em qualquer relação familiar, “Não Aceitamos Devoluções” revela ser uma boa surpresa de altos e baixos, de alegrias e tristezas, daquelas que em seu final a gente corre para abraçar os pais e dizer o quanto os ama e o que importa aqui é ficar do lado de quem gosta.

Mais informações:

Em Breve | “Não Aceitamos Devoluções”

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