Da leva de filmes independentes que saíram do Sundance ano passado, “Fruitvale Station: A Última Parada” foi talvez o que mais repercutiu fora do festival, ganhando o aval da imprensa e sendo até a aposta indie no Oscar. Mas no meio do caminho, durante a temporada de prêmios, parece que o estreante Ryan Coogler não conseguiu emplacar seu filme como muitos críticos previam por aí. Numa abordagem político-social dos fatos verídicos que marcaram a noite de ano novo de 2008, o filme (re)constrói, aos moldes de um registro documental, as horas que antecederam o assassinato do jovem Oscar Grant pelo policial Ingram na Estação Fruitvale.

 

Mesmo não sendo familiarizado com o caso, não é muito difícil ver que o que Ryan Coogler concretiza aqui é (mais) uma tentativa clara de usar o Cinema como arma de justiça e gerar algum debate sobre a intervenção policial nesse tipo de situação. Talvez um tanto ingênuo -ou puramente equivocado- ao escolher retratar os fatos numa dramatização que eleva Oscar à imagem de anti-heroi interrompido, o que era esperteza por parte de Coogler, por não se prender a veracidade apurada dos fatos (mesmo estampando no início que o mesmo é baseado em fatos reais), e pela suavidade com a qual sua câmera transgride ao redor de cada ato do jovem, se torna o grande deslize de “Fruitvale Station: A Última Parada“. Coogler vende um ideia, mas à medida que somos apresentados aos personagens, o estudo pré estabelecido por eles se torna meramente um (melo)drama industrial, e toda ou qualquer crítica que se queria conceber através da inevitável tragédia envolvendo Oscar acaba ganhando o contorno manipulativo e sensacionalista do pior exercício jornalístico, que pouco ou nada tem a dizer sobre a insensibilidade do ocorrido. Por mais que Oscar encontre dignidade na personificação irretocável de Michael B. Jordan, que aqui o experimenta em suas multi-facetas de cidadão americano, a idealização emocional e racial que Coogler quer a todo custo imprimir no espectador, na geração de um debate, faz do retrato honesto de um jovem à mercê do preconceito e do despreparo policial apenas um drama contemplativo maquiado de crítica social.

 

 

Por maiores as irregularidades, Coogler tem muita autenticidade fílmica (há um suspense ao melhor estilo “Colateral“, do Michael Mann, sendo construído em “Fruitvale Station: A Última Parada“), e seu estilo se faz presente principalmente na intenção de potencializar a ação subvertida do filme e da narrativa que, por mais subjetiva e imponente, é bastante sólida e realista. Porém, as intenções e o timing usado para perpetuar um personagem cuja compreensão fica totalmente por conta do espectador, a estréia de Coogler cabe somente em ser um drama sensível eficiente e bem atuado/dirigido, que deixa expectativa para próximos projetos do diretor. Não mais que isso, a discussão que o filme ocasiona se eleva bem mais na revolta do espectador para com a crueza do ato, do que para a justificativa cinematográfica dada por Coogler.

 

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