Crítica “American Horror Story: Cult” – O Apocalipse Político
1º episódio – 7ª Temporada
Um dos maiores, e mais chocantes, momentos do ano de 2016 foi a surpreendente vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais americanas contra a democrata Hillary Cliton. Um evento que para sempre irá marcar a história do mundo por sua imprevisibilidade e pela simples capacidade da população americana de julgar o que é certo e errado. Além de ter causado uma verdadeira queda a verdade sobre o verdadeiro significado de democracia no território estadunidense.
O mandato de Trump veio com muitas incertezas e medos por trás das minoras, que tinha toda desaprovação do presidente. E com as políticas extremistas do mesmo, imigrantes foram deportados, e direitos essenciais a essas minorias foram removidos como se o mundo tivesse entrado em uma máquina do tempo e voltado a época da escravidão. E um dos maiores exemplos recentes foram os ataques de extremistas brancos e neonazistas no estado da Virgina que saíram impunes e sem qualquer tipo de desaprovação do presidente.
Esse “Terror” instaurado pelas decisões presidenciais consegue ser mais assustador que qualquer monstro, fantasma, ou qualquer entidade ou ser sobrenatural, porque ele é real, ele existe. A má administração das políticas sociais pode ocasionar caos infinitos e a população estadunidense poderia estar à beira de entrar em um expurgo da vida real por conta da dominação de movimentos extremistas de ódio e de supremacia de maiorias. O terror real, o medo de sair de casa por conta de poder ser morto, perseguido ou atacado, é a verdadeira história de horror americana. E é com esse cenário que Ryan Murphy e sua equipe trabalham para criar a sétima temporada da série intitulada “American Horror Story: Cult” (Culto), e que conta a história do que acontece quando esses grupos de ódio são libertados para viver em sociedade pela falta de qualquer punição pelos seus atos.
O episódio começa na noite da apuração dos votos, com Donald Trump eleito. Um rastro de medo é deixado na pequena cidade de Michigan, e ainda mais em Ally Mayfair-Richards, mãe, esposa e proprietária de um restaurante que sofre de constantes fobias e de agudos ataques de pânico e ansiedade. Com a vitória de Trump, Ally se torna ainda mais suscetível a esses ataques, temendo por seu casamento, por estar em uma união estável homoafetiva, caso seja removido como um de seus direitos. E por seu filho Oz, fruto de uma fertilização in vitro.
A atmosfera criada em sua cidade torna tudo ainda pior, com inúmeros votantes do presidente locais, e assim tornando o medo de sair de casa em algo estrondoso, ainda mais quando ela começa a ver palhaços bizarros e assustadores em todos os cantos. E que em um dos momentos os mesmos atacam ela em um supermercado, mostrando que seus ataques podem acontecer em qualquer hora e em qualquer lugar. Então essa mulher é jogada em meio a um liquidificador e misturada em meio a todos os seus maiores medos, e sua mente torna tudo ainda mais tóxico e perigoso.
Muitos pontos a Murphy e Falchuk e ao veterano Bradley Buecker pela cena do supermercado que foi feita com tanta maestria e profissionalismo, um show de horrores em uma pequena cena que esse passa em um local nada assustador. O clima de horror criado foi algo que apenas profissionais do gênero poderiam ter feito, com ângulos corretos, cortes limpos e rápidos e uma fotografia clara que torna toda a experiência ainda mais realista e assustadora. E não posso deixar de falar da atuação de Sarah Paulson, que como sempre, está fantástica, mas aqui é possível ver um nuance de pavor diferente, seus medos e fobias são totalmente críveis. Existe um estudo dos mesmos, não são apenas gritos, é mais como uma sensação, um sentimento, um estado de espírito dessa mulher, e isso é totalmente visível, o que torna a experiência ainda mais amedrontadora.
Mas o verdadeiro questionamento fica pela existência dos mesmos, esses palhaços realmente existem? Esses ataques estão acontecendo? Ou todo esse terror é ocasionado pela sua mente, pelas paranoias e pela antecedência de seus pensamentos? Seria isso tudo um truque imposto por seu psicológico para torturar ainda mais ela? Ou isso é realmente verdadeiro e está acontecendo através de uma grande conspiração para atacar os membros liberais do condado? Com todo uma operação de “tocar o terror” sem punição e impedimento, não se sabe a resposta por agora, mas por conta de alguns acontecimentos do episódio, a conclusão se torna ainda mais “inconclusiva”.
Se de um lado temos os opositores ao presidente, de outros temos os apoiadores. Kai Anderson, jovem de classe média e que ainda mora com os pais, e que com a vitória de Trump, consegue o que tanto sonha, espalhar sua ditadura de medo para satisfação pessoal. Com um discurso narcisista e extremista sobre como o ser humano se alimento de medo, que ele precisa ter medo para poder viver a realidade e para que não seja anestesiado pelo sistema, ele monta seu reino de terror, propondo ataques em massa e tortura.
E com a ajuda de sua irmã Winter, uma votante de Cliton, que desiste de qualquer esperança pela derrota da democrata, os dois começam esse reino casa por casa, habitante por habitante. Iniciando os ataques aos Mayfair-Richards, onde Winter entra na casa disfarçada de babá, e criando uma relação de dominação e doutrinação com o filho das duas mães. Ensinando ao menino tudo sobre assassinato, morte e terror. E em meio tudo isso, um horrível ataque acontece aos vizinhos de Ally e Ivy, que são brutalmente assassinados, possivelmente por palhaços, mas algo que se torna inconclusivo pela investigação da polícia que afirma que foi um suicídio coletivo.
Parece que cada vez mais “American Horror Story” está de volta, com seus personagens eletrizantes, e suas caracterizações cada vez mais inusitadas e muito belas as lentes das câmeras. Winter e Kai são exemplos disso, com personagens bizarríssimos, mas muito icônicos, e as performances de Evan Peters e Billie Lourd, tornam tudo ainda mais incrível e divertido. Eles têm seu jeito peculiar de andar e falar, são pequenos monstros, mas não tornam isso tão evidente, eles têm muitas camadas de sentimentos, e que vão ser cada vez mais explorados com o andamento da temporada.
O episódio termina com uma cena aterrorizante, deixando todo o mistério para o próximo, com um dos palhaços em cima da cama do casal, apenas esperando Ally acordar para poder fazer algo. Uma cena perturbadora, pois, invoca muitos de nossos medos infantis, dos monstros embaixo da cama, e que deixa quem assiste incomodado. A vontade de assistir o próximo episódio é enorme, mas agora resta esperar.
Um primeiro episódio muito ambicioso, que conseguiu montar muito bem a trama, espalhando ela entre poucos núcleos, o que torna tudo mais concentrado e assim se tem mais êxito em contar essa história. Os personagens são reais e muito intimistas, e isso é confortável, é agradável sentir proximidade com essas pessoas, ver gente como a gente nessas situações, e é isso que torna esse terror tão assustador. O clima do episódio foi incrível, os cenários, fotografia, direção de arte, maquiagem e figurinos foram sensacionais e sempre remetendo a esse “mundo real” de uma forma muitos sombria e cruel. A direção de Buecker foi como sempre ótima, sem muitos erros, e com acertos estrondosos. Um ótimo começo para uma que parece ser ótima temporada.
9/10: Ótimo!
O que você achou do episódio? Comente sua opinião aqui embaixo. Espero que tenham gostado e que continuem a acompanhar as críticas de “American Horror Story” e de outras séries aqui no site. Até a próxima!
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