Bastidores de filmes às vezes dão histórias tão interessantes quanto o próprio filme que realizam. Há inúmeros relatos envolvendo clássicos de “O Mágico de Oz” a “O Bebê de Rosemary“, ou o próprio “O Poderoso Chefão” que, mesmo hoje sendo considerado um dos filmes mais importantes do Cinema, quase não saiu do papel. Alguns casos são tão instigantes que ganham as telas em forma documental, como “Room 237“, que explora teorias envolvendo “O Iluminado” de Stanley Kubrick, ou em forma de melodrama, como acontece em “Walt nos Bastidores de Mary Poppins“. Relatando travestidamente os fatos que encadearam a conturbada relação entre Walt Disney e a escritora de pseudônimo P.L. Travers na compra e venda dos direitos autorais de “Mary Poppins“, o novo longa de John Lee Hancock, diretor que conquistara em outrora platéias do mundo inteiro com o péssimo “Um Sonho Possível“, renova a tendência açucarada de seu cinema ao maquiar aquilo que não é bom para os negócios (da Disney).
A visão equivocada de Lee Hancock para a longa negociação entre Disney e Travers pode até cair nas graças dos menos informados a respeito do caso que o cerca, mas fato é que muito do que se rumoreja a respeito das situações em que ambos Travers e Disney se colocaram para chegar ao clássico filme que “Mary Poppins” é hoje é vagamente retratado aqui. E mesmo que a intenção de Lee Hancock não fosse ser verossímil quanto à História, o filme ainda é um grande emaranhado de boas intenções ocas. A falta de tato ou mesmo a sensibilidade para tratar personagens antiquados e emblemáticos cabe ao elenco realizar todo o trabalho sujo do diretor, como Sandra Bullock fez em “Um SonhoPossível“, papel que surpreendentemente lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz, e agora Emma Thompson, que se entrega sem ressalvas à caricatura de sua personagem e consegue dar ao filme uns (poucos) bons momentos de honestidade. Partindo do princípio de que as lágrimas significam que o filme está no caminho certo, essa estranha necessidade de Lee Hancock melodramatizar cada ação dos personagens a fim de creditá-los de boa índole, ainda mais num filme que retrata uma realidade conhecida (de uma minoria) do público, faz com que as situações se entrelacem num evento contraditório, o qual limita qualquer chance real de se fazer justificável às lágrimas que o espectador pode ou não compartilhar com a história.
Não mais que um caça-níquel mal feito, “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” de relevante só tem mesmo a co-relação com o texto no qual se inspira, pois a discrepância narrativa entre os contextos que Lee Hancock deseja (re)tratar acaba pendendo apenas para envergonhar a marca a qual reproduz e os valores éticos e verdadeiros que (ainda que poucos diretores o tenham feito) acreditavam-se existir na indústria de Hollywood atual.
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