Desprezando (dificilmente) todos os horrores da Segunda Guerra Mundial, há de se levar em conta que o período proporcionou muitos avanços tecnológicos, mesmo alguns destes sendo utilizados para o mal. Longe do front de batalha, um determinado grupo na Inglaterra travava uma corrida contra o tempo a fim de evitar novas baixas em campo. Um dos integrantes, o matemático Alan Turing, lutava também contra seus conflitos internos num país ainda intolerante.
A Alemanha bombardeia a Inglaterra e os Aliados estão longe de alcançar uma vitória. Tudo porque o exército nazista tem em mãos uma máquina criptográfica que repassa informações diárias, mas tida como impossível de decifrar. Uma chance de virar esse cenário surge quando os ingleses interceptam uma dessas máquinas e, sob as ríspidas normas do Comandante Denniston (Charles Dance), a equipe de cripto-analistas se forma no Bletchey Park reunindo potenciais intelectuais que poderiam quebrar o código da Enigma.
Exibindo uma arrogância semelhante de seus personagens em “Sherlock“ e “O Quinto Poder“, o Turing de Benedict Cumberbatch é um talento acadêmico, mas introvertido e carente por motivos que são contados durante a projeção. Seus defeitos, no entanto, não o impedem de criar o projeto de uma máquina com alto potencial de quebrar o código. Após muito relutância, a máquina batizada de “Christopher” fica pronta, mas longe de solucionar o enigma diário.
Quebrando tabus num espaço e tempo altamente machistas, a chegada de Joan Clarke (Keira Knightley) é crucial para Turing. Não só pelo fato da moça ter habilidade com criptografia, mas por ser a única na equipe que é capaz de compreender os embates pessoais do matemático. Representando seu papel com bastante humildade, Knightley é uma força a mais no filme, especialmente quando o roteiro vai convergindo para a homossexualidade de Turing, uma vez que a “condição” era vista como crime obsceno e sujeito à castração química. Ponto para o roteiro de Graham Moore e à direção de Morten Tyldum que procuram cuidar do tema sem parecer uma anomalia, mas apontando o tratamento odioso que as pessoas direcionavam – e que lamentavelmente mantêm até hoje.
O que enfraquece “O Jogo Da Imitação“, todavia, são seus flashbacks e flash-forwards que alteram constantemente o tom da narrativa, desde a comovente passagem da adolescência de Turing até o thriller corriqueiro que se torna na parte final, embora a trilha de Alexandre Desplat soe bastante coerente com as cenas, deslizando melodias bonitas no piano. Além disso, há consecutivas inserções com cenas da guerra acabam parecendo artificiais e supérfluas, uma vez que os personagens já estavam informando o que iria acontecer em seguida. Se serve como um elemento de transição, pareceu um pouco redundante.
O incrível aparato tecnológico que ajudou Turing, Clarke e sua equipe a diminuir anos de guerra, forneceu informações para combater as forças nazistas e, depois disso, abriu espaço para o avanço da computação. É irônico pensar, contudo, que enquanto a Inglaterra abatia um terror ao leste, perdurou outro em seu próprio território apenas por preconceito, mas que teve um final e diversos perdões às vítimas.
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