Após a repercussão e sucesso de “Cisne Negro“, o diretor Darren Aronofsky ganhou cartão verde para produzir o que lhe desse na telha. Sua escolha pelo épico bíblico “Noé” foi no mínimo surpreendente, mas não lhe faltou apoio de um grande estúdio e um elenco renomado. Nada relacionado ao subgênero havia sido lançado nos cinemas há cerca de dez anos e a história de Noé nunca havia sido desenvolvida nas telonas. A decisão, porém, não foi nenhuma novidade para o diretor, que desde sua juventude pensa no drama do homem que construiu a arca da salvação a pedido do Criador. Escrita pelo próprio diretor, juntamente com seu parceiro de carreira Ari Handel, e após um longo período de pós-produção, a trama finalmente chega no circuito comercial e mostra porquê super produção é sinônimo de grandiosidade.
Uma passagem bíblica do livro de Gênesis que contém cerca de apenas três páginas pode parecer uma escolha estranha para um diretor que costuma realizar filmes obscuros, repletos de tensão, suspense e dramas psicológicos, mas basta analisar quão tortuosa é a tarefa dada a Noé para ver que o encontro não é assim tão estranho, afinal, tal tarefa envolve difíceis escolhas: desde seguir pelas suas responsabilidades humanitárias ou divinas até ser movido pelo seu compromisso com o serviço e ou pela compaixão pela sua família. Isso tudo em meio a uma era de progressiva escuridão e destruição, que nos mostra que este drama continua um tanto moderno.
Se em seu texto original o protagonista do filme não tem nenhuma fala e são citados apenas seus filhos, sua esposa sem nome e sua missão, para a realização de uma produção grandiosa e uma narrativa interessante e completa, foi necessário adicionar elementos e personagens para todo aquele desenvolvimento que toda boa história deve ter. As duas passagens anteriores a Noé, a Criação e a luta de Caim e Abel, estão lá, assim como os anjos caídos e Matusalém (interpretado por Anthony Hopkins), como uma espécie de ambientação para o verdadeiro conflito: o homem comum, pai de família, que precisa se sacrificar para atender o pedido de seu adorado Criador. Apesar de poder abrigar sua família na arca juntamente com os animais, Noé (Russell Crowe) precisa dedicar anos de sua vida em sua construção e sua determinação começa a se fundir com uma fixação quando a atenção dada à tarefa de salvador sobrepõe seus deveres como pai e marido.
A ameaça de fora chega na forma do rei Tubat-cain (Ray Winstone), representante de todo o mal consumido pela humanidade, quem usará de todas as suas forças para conseguir um espaço na arca e, portanto, gera os momentos de ação que elevam o ritmo longa-metragem. Enquanto isso, no conflito interno que envolve a família de Noé, seu primogênito Shem (Douglas Booth) é o orgulho do pai e se envolve com a filha adotiva Ila (Emma Watson), mudando suas prioridades em direção a ela. Já seu segundo filho, Ham (Logan Lerman), sempre o mais contestador e curioso, não se retrai ao discordar do pai, levando a situação dos dois constantemente à beira de um embate. No meio da bagunça, a mãe, Noameh (Jennifer Connelly), é quem tenta balancear a situação a todo momento e através da qual o espectador, graças a atuação da atriz, testemunha os momentos mais emocionantes da trama.
A dedicação de Darren Aronofsky à história que há tanto tempo deseja contar é notável não apenas na sua característica e eficiente direção de atores – que por sua vez fazem um ótimo trabalho – mas também na escolha das locações, dispensando o CGI à favor da verossimilhança do real, e na decisão de construir uma arca de verdade, exatamente como a descrita na Bíblia, gerando um espetáculo visual à parte.
Apesar de sua assinatura como diretor poder ser vista também através do desenvolvimento de uma tensão e picos de suspense ou através de um enquadramento mais bem elaborado, todos os elementos adicionados na narrativa soam forçados, uma tentativa de atrair o espectador para uma história fantástica com um pano de fundo já conhecido. Os conflitos internos de seu protagonista marcam o ponto positivo do filme, que peca ao não atrair o espectador a realmente se importar com os problemas dos outros personagens à sua volta.
Mais críticas:
Crítica 01 | “Noé“, por Carlos Pedroso
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