É crescente em Hollywood o número de filmes com atores consagrados tratando a respeito da velhice e a iminência da morte de forma a compreender a inconstante transição do homem; em contraste com suas divergências sociais e pessoais. Contudo, poucos são os realizadores que conseguem fazer uma abordagem crível e inteligente do assunto. “Última Viagem a Vegas”, comédia dramática de Jon Turteltaub, mais novo longa a se aventurar pela temática, até possui os ingredientes necessários para estabelecer um debate interessante do assunto, mas ao deixar-se levar pela brincadeira de gênero, bastante visível pela semelhança do longa com “Se Beber, Não Case”, Turteltaub acaba por transformar qualquer aspecto verossímil de seu filme numa orquestra de sentimentalismo barato, que pouco justifica as intenções do elenco, e tampouco define alguma ideia a respeito da eloquência da temática.
Ao passo do que o melodrama tem a oferecer quanto ao desenvolvimento narrativo do argumento, o grande equívoco de “Última Viagem a Vegas” se encontra no fato da problemática dos personagens serem apresentadas ao público a fim de se dar algum valor sentimental a eles, para que, em seu ato final, lhes seja concedido um momento tênue de felicidade, que pouco ou nada irá dizer a respeito das sensações de um grupo de amigos sessentões, de longa data, numa viagem cheia de dilemas a Las Vegas. Ainda que o elenco consiga administrar em boa parte do primeiro ato o timing das piadas e acrescentar de forma honesta validade a complexidade do estado decadente da longa trajetória de amizade dos personagens, não há qualquer sutileza por parte de Turteltaub no que diz respeito à harmonia do filme, já que em grande parte ele está preocupado demais tentando escolher a canção perfeita para cada momento de saturação melodramática, na intenção de arrancar lágrimas fáceis do espectador. A discrepância com a qual o humor encontra o drama em Vegas é somente equilibrada em momentos no qual o grandioso Robert De Niro entra em cena. Sendo um dos atores que mais se aventura por esse (sub) gênero, De Niro transpira honestidade e logo remete seu personagem àquele senhorzinho de “Estão Todos Bem”, de Kirk Jones, que descobre que o único laço fraterno que tivera com sua família era através de sua mulher, que morrera. A trajetória de De Niro é de certa forma um reflexo do que seus personagens atuais tem a dizer, e talvez seja aí a genialidade do ator em transmutar para as telas os próprios sentimentos, pontuando a dramaticidade de suas expressões e desenvolvendo uma tese particular a respeito do que o cinema de transição tem a perpetuar.
Num mesmo ano em que Fisher Stevens reuniu Al Pacino, Alan Arkin e Christopher Walken de forma muito mais plausível em “Amigos Inseparáveis”, esse alívio cômico de Turteltaub só se justifica quando não está tentando manipular os sentimentos dos personagens (e do espectador). Não mais que uma sessão passa-tempo, a sensação que fica após os créditos finais de “Última Viagem a Vegas” é a mesma daquele domingo em família após ingerir doses demasiadamente saturadas de açúcar.
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