Depois do sucesso estrondoso de crítica e público com o inventivo e original “Distrito 9”, era praticamente inevitável que Neill Blomkamp acabaria indo para Hollywood e cedendo sua sede de revolta e politização ao grandioso universo blockbuster. “Elysium” é a aposta do diretor em potencializar tudo aquilo que experimentara em “Distrito 9”, com a magnitude do budget de mais de 100 milhões de dólares.

 

Mantendo-se semelhante ao argumento e a estrutura (enxuta) de seu longa anterior, o diretor leva o excepcional Matt Damon a um universo futurista, centrado no ano de 2154, aonde o ator luta para sobreviver o que restou da Terra. Tendo em vista o habitat catastrófico, as classes se polarizaram, e os ricos, tentando criar uma nova linhagem humana, constroem uma espécie de planeta artificial no espaço – Elysium -, e limitam a presença dos indivíduos menos favorecidos. Através de uma legislação rigorosa, essa classe trabalhadora continua a viver na Terra, completamente devastada, e, em sua minoria, tentam, por intermédio de grupos ativistas com recursos tecnológicos, atravessarem as barreiras criadas pela Secretária de Defesa (Jodie Foster) e se tornarem cidadãos de Elysium. O argumento sugere através desse plot a segregação dos negros sofrida durante o regime do Apartheid e que é fonte de toda a agressividade do cinema de Blomkamp, evidenciado, no filme, através do belíssimo conceito visual de Elysium em contraste com a pobreza suja dos habitantes da Terra.

 

Diferente do que se vê costumeiramente em filmes com tamanha grandiosidade tecnológica, os personagens em “Elysium”, apesar de gradualmente se limitarem conforme os eventos acontecem, têm a função de delinear toda essa revolta das divisões sociais, e dar voz as vítimas da injustiça de um regime violento. Grande parte se deve ao fato de Neill ter um ótimo e competente time de atores em mãos – inclusive preenchido por estrelas nacionais como Alice Braga e (um questionável) Wagner Moura. E, como forma de dar continuidade ao que fora debatido em “Distrito 9”, apesar das críticas de moralismo ou sensacionalismo, fazer uso das reflexões às custas da pertinência do argumento para tramar o que é visto ao longo dos 109 minutos de filme.

 

 

Não negando o fascínio com robôs e o próprio cinema sci fi – de blockbuster -, o longa de Neill Blomkamp tem todos os aparatos para uma sessão de encher os olhos. Mas a falta de controle do argumento e o escorregão da narrativa gradualmente se fadando em ser um mero objeto industrial tornam “Elysium” um experimento raso, que não sustenta sua ambição e que pouco faz jus ao que o próprio diretor quer tanto denunciar.

 

Crítica: 

01| “Elysium por Isabele Orengo

03 | “Elysium por Gabriel Lisboa

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