CineOrna_EspecialOscar2015

Há um ponto interessante a ser ressaltado sobre a categoria de Melhor Diretor nos últimos anos: o número de indicações e prêmios dados para diretores não-americanos. Se for concretizado o favoritismo de Alejandro González Iñárritu por “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)“, teremos um quarto ano consecutivo de um diretor estrangeiro levando o prêmio. Embora “Gravidade“, do também mexicano Alfonso Cuarón (que levou a estatueta ano passado), seja o único filme realmente interessante desse seleto grupo, continua sendo de extrema importância essa diversidade étnica dentre os indicados, mesmo que a premiação e os indicados desse ano tenham ficados marcados pelas críticas ferrenhas da falta de diversidade dentre todas as categorias.

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Particularmente, a cada ano venho perdendo mais e mais o interesse pela premiação. Não fosse tão somente a obviedade das produções catapultadas pela imprensa especializada, as tentativas frustradas da Academia em se (auto)validar como o maior prêmio cinematográfico do mundo tem cada vez mais levantado uma interrogação sobre seu interesse exclusivamente comercial. Obras cujo cunho é essencialmente papar prêmios durante a temporada são ovacionadas irracionalmente, enquanto filmes e cineastas que realmente desejam debater sobre algum tema relevante acabam sofrendo pela leitura política e equivocada que recebem de alguns céticos (como é o caso de “Sniper Americano” e “Selma: Uma Luta Por Igualdade” esse ano, e A Hora Mais Escura” em 2013), levando-os a se tornarem meros objetos retaliatórios dum debate de posicionamento político (ou interracial, no caso), esquecendo completamente o teor e o valor cinematográfico dos mesmos.

Entretanto, é sempre bom ver um diretor como Wes Anderson, por exemplo, recebendo a devida atenção por um trabalho seu. Sem contar que é também plausível alguém como Richard Linklater tendo o devido reconhecimento,  embora com um filme que não seja 1/3 definitivo dentro de sua (ainda) subestimada e quase nunca revisitada filmografia. Sem mais delongas, me pediram para comentar um pouco sobre os indicados dessa ano e dar meus palpites sobre eu acho que vai/merece levar a estatueta para casa.

CineOrna | Indicados

Richard Linktater – Boyhood: Da Infância à Juventude
Como eu disse, “Boyhood: Da Infância à Juventude” não é nem de perto o melhor filme da já grandiosa filmografia de Linklater, porém um projeto tão audacioso e particular como esse merece sim ser reconhecido. Tão somente porque Linklater retrata aqui algo tão pessoal de forma universal, o filme e sua direção simplória, sintetizada por um olhar bastante singelo sobre uma expressão do tempo, são de um encanto incontestável. Criativo e extremamente delicado, toda a eloquência de Linklater em “Boyhood: Da Infância à Juventude” o aproxima muito daquele “Azul é a Cor Mais Quente” (Abdellatif Kechiche), pela forma como a construção do tempo e das imagens tornam o que seriam meras experiências cinéfilas, num exercício de auto reconhecimento na imagem projetada. Cada momento da vida desses personagens se torna, a medida que vamos os descobrindo e vivenciando com eles suas frustrações e devaneios existenciais, parte duma memória de nós mesmos.

Bennett Miller –Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Só vi “O Homem Que Mudou o Jogo” do Miller, mas o acho um dos diretores mais interessantes em atividade nos Estados Unidos, tanto pela particularidade de seus projetos, como pela firmeza com a qual ele desenvolve os mesmos. “Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo” é um dos filmes mais ambiciosos dessa temporada, sem dúvida, e mesmo eu achando que ele não seja totalmente o que Miller pretendia, consigo encontrar na ousadia de filmar um thriller completamente anticlimático uma maneira de pensar o cinema como um recurso essencialmente visual, que muitos diretores americanos acabam esquecendo na hora de adaptar fatos ou cinebiografias. Embora Miller acabe tropeçando na ideia de um filme que é construído completamente através das ações dos personagens, “Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo” ainda é o resultado de um diretor que, mesmo descobrindo sua própria maneira de filmar, sabe o que está fazendo. E isso, por si só, já o coloca numa posição louvável dentre os indicados.

Alejandro González Iñárritu – Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Iñárritu é o diretor que eu menos gosto dentre os indicados e o fato de eu detestar “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” está relacionado justamente com seu posicionamento diante do próprio filme. Um diretor que se mune de inúmeros recursos e soluções fajutas pra construir toda a pretensão que é filmar um plano sequência (mesmo este sendo um recurso fílmico interessante por excelência) simplesmente não dá pra se levar a sério. Eu particularmente não vejo nada de genial em alguém que se apropria tão descaradamente do banal e vomita tudo na tela na tentativa de causar euforia por consequência. Fracamente, espero que a Academia não cometa o erro de concretizar seu favoritismo no Domingo.

Wes Anderson – O Grande Hotel Budapeste
É sempre tão bacana ver um diretor encontrando na própria arte uma forma de reinventar sua autoria. “O Grande Hotel Budapeste é bem mais sobre como Wes Anderson pensa sua estética do que qualquer outra coisa. E só por ser um dos trabalhos mais inventivos dele até aqui ele já seria meu favorito dentre os indicados.

Morten Tyldum – O Jogo da Imitação
O Jogo da Imitação” é para Morten Tyldum o que “Traffic: Ninguém Sai Limpo” foi para Steven Soderbergh em 2000. Um filme cheio de excessos, pré-fabricado pra chegar como favorito numa premiação como o Oscar (apesar de ser irônico como o filme foi perdendo seu valor durante toda a temporada), extremamente quadrado e limitado em seu engodo complexo, que acaba refletindo bem mais na frustração de um diretor competente se vendo diante de uma obra completamente idealizada pela produção. Tyldum continua sendo um dos mais promissores diretores alternativos, e seu cartão de visita continua irretocável (vejam Headhunters), mas depois de um filme como “O Jogo da Imitação” o que eu espero dele é algo minimamente genial como “Onze Homens e Um Segredo” é pro Cinema do Soderbergh.

Pra finalizar,
Quem leva: Alejandro González Iñárritu, “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Possibilidade: Richard Linklater, “Boyhood: Da Infância à Juventude
Quem merecia: Wes Anderson, “O Grande Hotel Budapeste

 

Confira as críticas dos filmes indicados ao Oscar de Melhor Diretor:

Crítica | “O Jogo da Imitação, por Thiago Cardoso

Crítica | “Birdman, por Maiara Tissi

Confira mais especiais Rumo Ao Oscar:

Rumo Ao Oscar: Melhor Trilha Sonora, por Gustavo Panacioni

Rumo Ao Oscar: Melhor Animação, por Isabele Orengo

Rumo Ao Oscar: Melhor Figurino, por Ana Lesniowski 

Rumo Ao Oscar: Melhor Ator e Melhor Atriz, por Kelvyn Kaestner

Rumo Ao Oscar: Melhor Filme Estrangeiro, por Thiago Cardoso

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