“Você pode tomar cuidado com esse pé aí fazendo o favor?” e em frações de segundos eu estava de volta à Terra. Quase que literalmente. Talvez outros ruídos e conversas tivessem acontecido até ali, mas a minha imersão no filme era tamanha que precisou alguém do meu lado praticamente gritar para lembrar que eu estava sentado em uma poltrona de cinema, e que a lei da gravidade se aplicava a mim.
Apesar da indignação da garota ao meu lado, não foram precisos mais de alguns poucos segundos para voltar a me ‘distrair’ com “Gravidade“, novo filme de Alfonso Cuarón. Sim. Imagens lindas, efeitos visuais alucinantes e constante vertigem (principalmente para quem vê no IMAX) contribuem para você sentir-se parte daquele enredo. Entretanto nada te deixa mais “inside the movie” que os seus ouvidos.
Voltar a ‘sintonizar’ a frequência do filme de maneira tão rápida tem suas explicações. “Gravidade” te proporciona momentos de beleza sistêmica ao intercalar, em trechos de tensão, a viagem de volta à órbita espacial. É como se fôssemos jogados, de maneira brusca e quase que sem vontade própria, de volta ao lado belo do filme. Aquele lado em que a ação humana não tem qualquer relevância diante dos enigmas do universo. Somos apenas mais um, somos insignificantes e você, espectador, vai perceber isso nem que seja na força. E aí, um abraço. A música de tensão sobe e é cortada abruptamente para uma relaxante composição acompanhada de uma imagem “de tirar o fôlego” do nosso planeta.
Assim, ao mesmo tempo que vemos a luta da personagem em voltar à Terra, ao chão, ao lar, temos a nossa vontade particular de espectador de continuar flutuando e escutando aquela música relaxante enquanto olhamos para o pôr do sol em algum lugar do mundo. “Gravidade” nos proporciona uma representação muito clara do que é a complementação sonora e quais são os resultados da combinação de som com imagem com roteiro.
“Gravidade” é uma viagem não só pela premissa básica de ‘filme no espaço’. É uma viagem porque te faz não querer mais voltar, mesmo que inconscientemente e mesmo com todos aqueles desafios presentes no filme. “Gravidade” não é um filme sobre o espaço, mas sim um filme sobre a nossa dificuldade em voltar à Terra. O choque de realidade, de calor e frio, céu e chão, silêncio e som nos dá uma pista. Uma profunda crítica à nossa maneira de ser, pensar e ouvir.
Mais informações:
CRÍTICA 01 | ”Gravidade“ por Thiago Cardoso
CRÍTICA 02 | ”Gravidade“ por Carlos Pedroso
Não deixe de conferir as novidades do CineOrna através das nossas redes sociais:
Facebook | Twitter | Filmow | G+ | Instagram | Tumblr | Pinterest