Vamos começar dizendo que a história é clichê, aqui já vemos a ousadia de Denis Villeneuve em aceitar o convite para contar uma trama que já foi milhões de vezes mostradas no cinema, mas deixo claro aqui o quão bem elaborado foi este filme. Em Boston, no dia de ação de graça, duas famílias se reúnem para celebrar a data, mas as filhas mais novas dos casais resolvem ir brincar do lado de fora da casa, e misteriosamente acabam sumindo, o único suspeito é um rapaz que estava conduzindo um trailer velho e que estava parado perto da casa um tempo antes do sumiço.
Como citei é uma trama simples, mas têm dois diferenciais, que transformam a produção em algo bem superior a maioria dos suspenses atuais, a primeira é na forma peculiar da direção de Denis Villeneuve e o roteiro que é brilhante. Um roteiro que não subestima o espectador, e dá provas evidentes do desfecho da história a todo tempo e ainda assim consegue surpreender. É um thriller muito bem executado. Mesclando muito suspense com uma forte carga dramática, o filme prende a atenção desde o primeiro minuto, graças ao engenhoso roteiro de Aaron Guzikowski (do mediano “Contrabando“, com Mark Wahlberg). Guzikowski é extremamente bem sucedido ao transformar cada um dos personagens centrais do filme em potenciais suspeitos do desaparecimento das duas meninas. Um quase estreante, que soube desenvolver com grande destreza a personalidade de cada personagem e sua importância na trama. Conseguiu também manter durante duas horas e meia o clima de suspense, devido principalmente as pontuais reviravoltas que surpreendem em agregar e não “encher linguiça” na narrativa.
Hugh Jackman mais uma vez está ótimo, alternando momentos de muita tristeza de seu personagem com momentos de pura fúria e emoção. Em duas sequências em particular, Jackman dá um show, justamente usando de emoção em uma das cenas (quando uma possível prova da morte de sua filha lhe é apresentada), e fúria na outra (quando seu personagem questiona o trabalho do detetive interpretado por Jake Gyllenhaal). Falando em Gyllenhaal, seu personagem não tem momentos tão agudos como o de Jackman, mas na minha opinião, é de Gyllenhaal a melhor interpretação do filme. Como um obstinado detetive da polícia, o ator consegue transmitir o crescente descontrole emocional de seu personagem, à medida que entra mais fundo na investigação. Em determinado momento, seu personagem desenvolve uma espécie de tique nervoso, piscando os olhos sem parar quando nervoso, numa sacada de gênio.
Muito bem conduzido e sempre mantendo um alto nível de tensão, o filme constrói um clima de alta expectativa para seu final, que infelizmente não carrega um golpe tão impactante assim, desequilibrando um pouco o filme como um todo. “Os Suspeitos” é um dos melhores thrillers do ano, graças à maneira sólida e inteligente de contar uma boa história de mistério, e principalmente graças à sua poderosa dupla de protagonistas, que conseguem transformar até cenas que não pesam tanto para o filme, em sequências de alto impacto.
Mais informações:
Não deixe de conferir as novidades do CineOrna através das nossas redes sociais:
Facebook | Twitter | Filmow | G+ | Instagram | Tumblr | Pinterest