Conhecido pela miscigenação narrativa, dada pela parceria entre Jeffrey Friedman e Rob Epstein ao longo dos anos, o cinema alternativo dos diretores encontra na transposição cinematográfica da biografia de Linda Lovelace – o maior nome feminino do cinema pornô americano na década de 70 – o maior desafio que já enfrentaram; seja pelo conteúdo controverso, ou pela obscuridade que cercava a vida da já falecida atriz.

 

Através do sucesso do clássico “Garganta Profunda”, num estudo da fórmula para o estrelato e a chegada até ele, o roteiro de Andy Bellin, unido à visão estética setentista de Friedman e Epstein, explora a vida de Linda do momento em que conhecerá o sedutor Chuck (vivido pelo sempre ótimo Peter Sarsgaard), passando pelo casamento conturbado dos dois, até sua escalação e conseqüente transfiguração no filme que revolucionara a indústria pornô e a transformará em Linda Lovelace. Num primeiro ato, a atriz (interpretada por Amanda Seyfried) mergulha ingenuamente numa experiência de descobertas, que aos olhos do espectador é vista como um estilo de vida. Aos poucos, a estrela pornô ganha voz e, como numa pesquisa investigativa, os fatos que a levaram a se tornar Linda Lovelace vão transparecendo num melodrama estabelecido em contraposição a idéia inicial do filme. Uma aposta interessante dos realizadores em transformar o longa numa espécie de pedido de desculpas à Linda.

 

Cheio de participações curiosas, de James Franco a Hank Azaria, “Lovelace”, se sobressai quando visto aos olhos dos atores, em especial Amanda Seyfried, que assume a responsabilidade de uma abordagem propriamente pornográfica, entregando-se aos fetiches estéticos dos diretores, e da violência intensificada gradualmente. E como num filme de terror, os eventos surgem como espectro fantasmagórico, deixando uma idéia subvertida do conservadorismo americano quanto à liberdade sexual, e das próprias escolhas de Linda.

 

Conjunto a corriqueira visão do submundo ao qual a atriz se encontrava, e a falta de profundidade narrativa, essa que só é vista em momentos de puro impacto, “Lovelace” se deixa levar pela atmosfera investigativa sensacionalista, tornando-se uma experiência difícil para que os diretores – e principalmente o espectador – compreendam a imagem e a mulher por trás de Linda Lovelace, submetida ao olhar piedoso cortes que pouco faz jus a violência por ela sofrida. 

 

 

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