Em um mundo onde deixamos nossas informações pessoais e de crédito armazenadas em sistemas virtuais ou até por comunicação telefônica, a probabilidade de ficarmos expostos a situações de fraude ou de termos algum dado utilizado de forma maliciosa é considerável. Por mais que a segurança desses sistemas esteja em constante aprimoramento, não é difícil ouvirmos que alguém percebeu em sua fatura de cartão de crédito compras nunca antes feitas por si mesmo.

Baseado nessa premissa, “Uma Ladra Sem Limites” (“Identify Thief“) narra a história de Sandy Bigelow Patterson (Jason Bateman), um típico cidadão da reconhecida classe média estadunidense: trabalha duro, mas possui um emprego que o deixa sobrecarregado e com uma margem da satisfação pessoal muito baixa como analista financeiro. No entanto, a oportunidade de prosperar em um cargo influenciador de uma nova empresa o surpreende positivamente. Só que uma pedra surge em seu caminho: Sandy começa a receber acusações de crimes que nunca cometeu. Logo, deduz que teve a infortuna de ter seu cartão de crédito e identidade clonados. E as circunstâncias o levam a descobrir o nome dessa pedra que tanto o assola: Diana (Melissa McCarthy).

Diana é interpretada pela excelente Melissa McCarthy e é retratada como uma solitária estelionatária na Florida que, após conhecer Sandy, tem a missão de tirá-lo da enrascada em que o meteu no Colorado. Assim, os dois iniciam, pelas circunstâncias, uma relação de “mutualismo” peculiar. Sandy propõe a Diana que ela vá até o escritório de seu chefe para explicar o que (quem, na verdade) tem manchado sua imagem profissional e, em troca, promete não a entregar à polícia. Com o aceite de Diana, é dada largada à peregrinação desses dois tipos opostos. 

As peripécias pelas quais a dupla tem de passar para arrumar o estrago da fraudadora envolvem desde a fuga de um criminoso encarcerado com o qual Diana se envolveu indiretamente até, claro, se passarem por outras pessoas para não serem descobertos.

A promessa de ser do filme é mais valiosa do que vemos de fato. Explorar e extrair o humor e a ironia das infelizes situações cotidianas pelas quais temos de passar é uma ótima oportunidade de construir um roteiro divertido e inspirador. Entretanto, Seth Gordon e Craig Mazin, diretor e roteirista do longa, respectivamente, não foram bem sucedidos em personificar esse humor retirado da tragédia.

Percebemos, durante o desenvolvimento do filme, que há um constante apelo ao humor físico, principalmente na personagem da atriz Melissa McCarthy. Qualquer que fosse a intenção dos criadores no retrato de Diana, o que se transparecer conclusivo foi a imagem de uma mulher que é reiteradamente humilhada de uma maneira velada, de modo que o espectador não se sentirá confortável em rir. 

Não bastasse o furo na construção do estereótipo de Diana, a personagem de Jason Bateman também sofre constantes ofensas durante o filme. Em algumas cenas, devido ao disfarce criado por Diana, Sandy tem de se passar por seu marido que, segundo sua esposa de mentirinha, devido a um problema de saúde, teve de retirar seus órgãos genitais. Isso enseja a maior sorte de piadas entre os que ouvem a anedota: xingamentos como “viado”, “traveco” passam a ser corriqueiros para o analista. Claramente, isso é uma demonstração de como o mau gosto e o preconceito podem se perpetuar no humor, de maneira que isso é normalizado a ponto de que se torne “engraçado”. Mas não é. É ofensivo, repulsivo, e apenas retrata intolerância e discriminação a minorias sociais. 

No fim das contas, o filme se torna válido apenas pelas atuações de Melissa McCarthy e Jason Bateman. Uma pena que Gordon e Mazin tenham se deixado levar por essa “veia cômica” preconceituosa – algo que, de fato, deveria ser extirpado. 

FICHA TÉCNICA

Uma Ladra Sem Limites (Identity Thief)

Diretor: Seth Gordon

Elenco: Melissa McCarthy, Jason Bateman, Amanda Peet, Jon Favreau e outros

Produção: Scott Stuber, Jason Bateman, Pamela Abdy

Roteiro: Craig Mazin

Trilha Sonora: Christopher Lennertz

Duração: 1 hora e 52 min.

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