Ao final do primeiro “Truque de Mestre“, lançado em 2013, mais parecia que todos os números mágicos apresentados, sobrepostos com recursos multimídia de altíssima tecnologia, eram um mero pretexto para um filme de assalto aos corruptos estrelando um elenco pra lá de conhecido. Quando se coloca o ilusionismo em tela, porém, espera-se aí um deslumbramento também com os recursos cinematográficos, quem sabe, do jeito que Méliès fazia dentro dos seus limites sem perder o encanto; mas a direção de Louis Leterrier parecia pouco interessada em projetar uma montagem instigante ou qualquer outro artifício narrativo que proporcionasse uma experiência mágica além da graça presente no roteiro. Agora dirigido por Jon M. Chu, “Truque de Mestre: O Segundo Ato” mantém no auge seus estratagemas estilosos que funcionaram no primeiro longa – e traz nas mangas seus mesmos erros.
Um ano após a despedida/fuga triunfal dos Quatro Cavaleiros, fazendo chover notas de dólares em Nova York, “falindo” Arthur Tressler (Michael Caine), o empresário da companhia de seguros que prejudicou muita gente, e botando Thaddeus Bradley (Morgan Freeman) no xadrez, o agente do FBI Dylan Rhodes (Mark Ruffalo) tenta encobrir as evidências do paradeiro do grupo de ilusionistas que agiram a la Robin Hood, sabendo muito bem o quanto estes anseiam por voltar à ativa. Obviamente, J. Daniel Atlas (Jesse Einsenberg), Merritt McKinney (Woody Harrelson), a novata Lola (Lizzy Caplan) e o “finado” Jack Wilder (Dave Franco) querem voltar por cima e escolhem a cerimônia da duvidosa Octa, uma empresa de tecnologia que endossa um mágico de reputação também questionável. Quando tudo se mostra em plena glória, com uma exagerada ovação do público na cena, os Cavaleiros são encurralados por alguém invisível a eles, dispondo de toda a tecnologia para encurralar o quarteto e defasar seus planos inteligentes. Praticamente sem seus aparatos midiáticos, os quatro e Dylan se põem em fuga e apenas com a criatividade em mãos, mas os caminhos não são como o planejado.
Experiente em filmes de dança, Chu traz a este novo “Truque de Mestre” uma dinâmica muito mais prazerosa do que a presenciada no anterior, onde os personagens irritavam por sua arrogância generalizada por serem “super mágicos”, além de o próprio filme possuir um meio teor policial. Da combinação de suas habilidades, que soma o jeito desengonçado de Caplan, os trejeitos e a fala acelerada de Eisenberg, Dave Franco e seu sorriso carismático, além de toda marra (em dose dupla…) de Harrelson, o longa cresce quando os quatro mágicos são o centro de atenções, fruto de um evidente entrosamento entre o elenco que rende cenas com marcações divertidas e que impressionam de súbito, muito embora a sequência envolvendo um roubo de um componente eletrônico sugira um looping hipnótico com a incessante e didática trilha de Brian Tyler. Até Mark Ruffalo não fica de fora da “brincadeira” e toda a aquela sequência nas ruas de Macau são contagiantes por sua ação dosada de ilusionismo e um bom trabalho de câmeras e edição.
Enquanto tudo flui ocasionalmente bem com o quarteto, a contraparte do elenco é prejudicada pelas insistências do roteiro assinado por Ed Solomon em querer injetar subtramas para valorizar seus atores veteranos e engessar tal universo de mágicos que correspondem à misteriosa organização O Olho, sem contar o povoamento de inimigos ocultos que aparecem para deixar o filme, pouco a pouco, à beira da exaustão. De fato, toda a tragédia envolvendo o pai de Dylan Rhodes se mostra agora um arco de vingança de Tressler e Bradley, cujas motivações, todavia justificáveis, soam mais rasas do que aparentam visualmente, logo quando reviravoltas forçadas são impostas com pouco esforço narrativo, comprometendo a jornada vista no primeiro filme. E se a presença de Daniel Radcliffe era, senão, o maior atrativo para o longa, descobrimos então que o tecnocrata Walter Cramby, tão caricato e ao mesmo tempo surtado, fica aquém do esperado; toda a ameaça imposta ao quarteto é facilmente subestimada. E isso não se resume ao fato de ele ser um “trouxa” aqui.
Em uma palavra, “exaltação” talvez seja o termo certo para designar “Truque de Mestre: O Segundo Ato“, tanto num bom como mau sentido. Existe uma vontade de proporcionar ao público um entretenimento que precisa exponenciar sua grandiloquência, e o espetáculo visual que marcam as locações em Londres é prova disso, a ponto de desafiar a ação da natureza. Contudo, os excessos de diálogos expositivos, pares de cenas redundantes e uma específica explosão (digital) de automóveis vão comprometendo todos os pontos positivos adquiridos no início da projeção, pairando um pensamento de que a experiência seria bem mais cativante se fosse mais contida. Para quem espera se entreter normalmente, é certo que será um incrível show. Da parte dos incrédulos e/ou modestos, que a diversão, da próxima vez, seja guiada pelo enaltecimento da magia e pelas boas artimanhas da trucagem do cinema.
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