O drama de mães que perderam seus filhos permanece constante no nosso cotidiano, revelando casos emocionantes que por vezes são explorados em massa pela mídia, com seus desfechos sempre catárticos (acompanhados de câmera lenta e música triunfal). Dirigido por Stephen Frears (“A Rainha“) e baseado em fatos reais, “Philomena” vai na contra-mão e entrega uma cruzada intimista de uma senhora irlandesa cujo filho lhe foi tirado quando ainda era pequeno, aliando-se a um jornalista cético distribuidor dos mais ácidos comentários durante essa jornada intrigante e encantadora.
Martin Sixmith (Steve Coogan, o qual roteiriza e também produz o longa) é um ex-jornalista da BBC envolvido num escândalo político que está a procura de uma história para escrever durante seu tempo como desempregado. É por acaso que Sixmith acaba se interessando pelo relato da filha de uma senhora que no aniversário de 50 anos de um filho perdido quer reencontrá-lo. Philomena Lee (Judi Dench, sempre magnífica e presente) é uma católica já idosa e marcada pelo tempo, onde engravidar antes do casamento era motivo de repúdio e desprezo geral, tendo que trabalhar forçado para viver num convento de freiras rigorosas. Phil, assim como todas as jovens mães, sabia que um dia seu filho seria levado por um casal de ricos, chegando a assinar um documento que afirmava não possuir mais direitos sobre a criança, sem saber até mesmo para onde ela foi. Em uma época de repreensões e consentimentos, a única coisa que a moça poderia fazer, senão, era suportar a dor.
Tornando-se uma história envolvente de investigação, acompanhamos Martin e Phil pelas terras irlandesas em buscas de pistas perdidas do paradeiro do filho, tendo que encarar novamente a arrogância e falta de cooperação das irmãs até outros incidentes surgirem para os levarem até mesmo para uma viagem aos Estados Unidos, com a editora (Michelle Fairley) de Martin os assistindo remotamente buscando informações do filho Anthony. Claro que a viagem os levaria a um conflito entre suas personalidades, várias frustrações e revelações inesperadas, mas a paciência de Phil não a deixa desistir.
Utilizando recursos sutis que se notam práticos a narrativa, como os flashbacks gravados utilizando filmes de Super 8 e fitas VHS com cenas de um Anthony criança até chegar a fase adulta, o roteiro permite que Coogan e Dench desenvolvam uma química surpreendente; ela proporcionando momentos de descontração e pesar, nos fazendo dar risadas por suas divertidas constatações entre dúvidas de como o filho é fisicamente ou até mesmo fala, com toda a sinceridade e deleite, a respeito de sexo, enquanto Steve explora o ceticismo de seu personagem tecendo os mais viscerais comentários a respeito da conduta “moralista” que alguns redutos da Igreja Católica ainda insistem em manter. No entanto, “Philomena” não é totalmente uma crítica social e religiosa, mas um registro justo de uma mulher que aprendeu o significado pleno da aceitação.
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