“Oliver e sua Turma“, “A Incrível Jornada” e “Babe: O Porquinho Atrapalhado“. Todos esses filmes, de uma forma ou de outra, trouxeram uma premissa semelhante ao mostrar um conjunto de animais de estimação fazendo coisas que seus donos/companheiros jamais imaginariam, chegando ao ponto de se aventurarem pelo meio urbano e tirando uma lição de tal experiência. Mesmo com tal referencial, existe algo em “Pets – A Vida Secreta dos Bichos” que nos encanta por mais que seu tema não seja inédito, algo que afirma que a amizade é um valor que nunca sai de moda.
Max (Louis C.K./Danton Mello) é o tipo de cachorrinho fiel que só tem olhos para a humana Katie e sempre (e pacientemente) fez questão de esperar a dona voltar da rua diante da porta de entrada do apartamento onde moram. No meio desse tempo todo, porém, o cão da raça Terrier não passa sozinho, recebendo seus vizinhos de prédio que vão da gulosa gata Chloe (Lake Bell) e o Pug de nome Mel, a um periquito e Norman, um porquinho da Índia que circula pelos dutos do prédio tentando encontrar o andar de sua morada; sem se esquecer de cumprimentar os outros amigos animais no edifício ao lado, incluindo a fofinha Gigi/Gidget (Jenny Slate/Tatá Werneck) que, apesar de meiga e mais refinada, tem por Max um sentimento maior que a amizade. Se juntos os amigos de pelos ou penas colocam o papo animal em dia ou não deixam escapar uma bolinha, essas intrusões súbitas nunca pareceram um problema ao leal companheiro de Katie. Aliás, seus incômodos começariam injustamente na sua hora mais esperada, aquela em que ele não hesita em latir e pular e rodar de tanta alegria ao ver a dona chegar.
Desde a chegada do espaçoso e grandalhão vira-lata Duke (Eric Stonestreet/Tiago Abravanel), o que desencadeia uma série de estranhamentos entre os dois cachorros dentro de casa ou nas ruas de Nova York, fica bem evidente que a jornada de “Pets” se trata de mais uma história sobre aceitação e superação de diferenças. É mais ou menos como no primeiro “Toy Story“, com seus dois personagens contrastantes medindo esforços a fim de voltar para casa a tempo, mas, se na saudosa animação da Pixar havia carga dramática o suficiente para comprovar a evolução (ou redenção) de cada protagonista, aqui a animação dirigida por Chris Renaud (“Meu Malvado Favorito“) e Yarrow Cheney pouco exprime a sensação de medo por estarem perdidos numa cidade enorme e assim sujeitos a qualquer tipo de perigo.
Assim como todo cachorro que sai para passear, o ritmo da aventura começa acelerado e se mostra bem conduzido pela sua novidade narrativa, mas logo fica arfando na metade do caminho – um provável reflexo da divisão da linha temporal em três núcleos: Max e Duke querem voltar para casa, Gigi e turma buscam encontrar os dois, a gangue do Bola de Neve planeja vingança. Ainda que se esbarrem pelos cantos da metrópole, cada corrida dos animais parece ser moldada no roteiro apenas como esquetes cíclicas cujas recompensas são cenas engraçadas reiterando seu conceito inicial de apresentar o que os bichos fazem na ausência dos humanos. Da verdadeira folia vista na casa do velho Beagle Pops à supérflua e delirante sequência numa fábrica de salsichas, é uma pena que o belo momento revelando o passado de Duke não possui um grande impacto emocional caso fosse inserido anteriormente e, desse modo, fornecendo uma motivação maior ao personagem.
Não que tudo isso signifique que “Pets” seja decepcionante ou não contenha nada inovador. Pelo contrário, a animação da Illumination Entertainment acerta e muito no seu visual, apresentando ótimas texturas sem se esquecer de apresentar uma veia cartunesca, ainda mais quando outros filmes animados encantam mais pela sua verossimilhança com o real logo quando a expressão artística deveria falar mais alto. A Nova York destes animais é colossal e mesmo com suas centenas de edificações praticamente coladas umas às outras, a cidade se mostra iluminada e dona de cores aconchegantes, o que melhora com a boa trilha sonora assinada por Alexandre Desplat entonando um jazz característico.
Para uma geração já adulta que cresceu assistindo à várias animações e assim manteve esse hábito, é provável que os vários momentos de “Pets: A Vida Secreta dos Bichos” podem não ser surpreendentes, todavia, fica a vontade de chegar logo em casa e abraçar logo aqueles(as) que sempre nos esperam para nos encher de carinho, o que vem muito a calhar depois de um dia ruim. Para as crianças e jovens (talvez o público-alvo principal da animação), serve como um bom pretexto para adotar um ou mais mascotes. Cumprindo e divertindo pouco além do esperado, não seria de todo o mal se as dispersões durante o filme fossem adestradas com encantamento e emoção.