Sou muito suspeito para falar de “A Forma da Água“, pois Guillermo del Toro é disparado um dos meus diretores preferidos, e isso por quê? Bom, porque é inegável seu talento fantasioso para criar seu próprio universo, lembrando outras pessoas nesse meio, como por exemplo, Tolkien, Spielberg, George R. R. Martin, J. K. Rowling e George Lucas. Sempre me identifiquei com criadores de conteúdo próprio.
“A Forma da Água” não é diferente dos demais filmes de Guillermo, bom, levando em consideração que ele se embala no personagem Abe de “Hellboy“, ou é isso o que pensamos ao ver o trailer, mas o bem da verdade é, Del Toro se inspirou no monstro da lagoa negra, ele deu uma polida ali e no seu jeitinho transformou uma filme de ficção em um filme de romance, politicismo governamental, amizade, clássico, belo, musical, enfim. De tudo um pouco é o que você encontrará nesse ótimo longa.
“A Forma da Água” se baseia na história de Eliza Esposito (Sally Hawkings) que trabalha como zeladora para uma base governamental onde estudam ‘coisas diferenciadas’ (até aí a ideia da primícia de “Hellboy” se mantém presente.) E eles trazem da Amazônia, uma criatura que lembra muito o Abe do primeiro filme, com uma pitada diferenciada de estética, lembrando mais a criatura da lagoa negra mesmo. E claro, o governo quer estudar o monstro, rivalizando com seu maior rival a vida inteira, a Rússia que sempre quer estar a frente do próprio EUA, assim que o âmbito de espionagem se mostra muito presente. Eliza começa a empatizar com a criatura, levando certa amizade com ela, já que a mesma mostra ter emoções e tudo mais.
Do outro lado temos, Richard Strickland, o encarregado do projeto que quer os resultados o quanto antes. Vemos a personalidade do personagem destacá-lo por completo, pois o mesmo mostra o pior do ser humano, um homem preconceituoso, racista, arrogante, mau, ambicioso, machista, sem nenhuma consideração pelos demais, e é inevitável a raiva que você gera do mesmo, assim que foi muito bem interpretado pelo ator (Michael Shannon) que apesar desse papel odioso mostra que quanto mais você detesta um ‘vilão’, melhor é o seu desempenho no papel. Temos outros personagens que contemplam o desenrolar da história, como o vizinho de Sally, o artista Gilles (Richard Jenkins) que é praticamente a única família dela. Zelda Fuller (Octavia Spencer) é sua amiga de trabalho que a ajuda traduzindo suas palavras, pois Sally é muda (já chegaremos nessa parte) e a auxilia em tudo basicamente.
No desenrolar da trama chegamos a conclusão simples, que essa criatura deve ser liberta, pois eventualmente morrerá, e no desenvolvimento da história vemos esse envolvimento dela com ele, da apresentação dos personagens, o trabalho, o sofrimento da criatura, até chegar no terceiro arco, que leva o final do ‘fim’ da criatura e, da própria Sally. A maneira como o amor se torna presente entre os dois é o ponto chave do filme, fazendo uma analogia as pessoas diferenciadas, que apesar de serem do jeito que são, também amam e se conectam com outros e com tudo. O longa é bem estruturado em primeiro, segundo, terceiro ato. Tudo flui bem natural e acho que isso misturado a um história diferente e bem polida fez esse filme se tornar o que é.
Agora eu digo, esse é um longa que de repente para muitos, será cansativo e ‘chato’, mas isso se deve ao fato de você não somente se entregar ao visual, ou estético (que por sinal, está sensacional) mas deixe-se mergulhar na história por trás e pegue nas entrelinhas as tantas mensagens dadas nele, como por exemplo a ideia de uma personagem muda se comunicar com uma criatura que não pode falar (incrível essa sacada) como ela se sente deslocada em meio aos outros, assim como a criatura, que nem sabe o que está acontecendo. Como o vizinho de Sally, um homosexual que vive sozinho solteirão tentando encontrar um amor para viver. Como a amiga dela, Zelda, uma mulher negra que vivia baixo um preconceito racial daquela época (anos 60) e também ‘prisioneira’ em sua própria casa, onde mulheres eram vistas como funcionárias dentro de casa e nada mais. É um filme recheado de problemas antigos que até hoje perduram. Tudo isso feito de uma maneira sutil e bem encaixada. A maneira como a própria ‘água’ se torna presente no filme todo, sempre chovendo, respingando, caindo no chão, é sensacional essa pegada. É definitivamente um dos filmes mais bem feitos que você verá esse ano, é absurdamente bonito, lírico e poético. Detalhe para suas 13 indicações ao Oscar, assim que conteúdo tem de sobra para ganhar muitos. Vale muito a pena desfrutar dessa arte visual criada por Del Toro, um filme belo retratado pelo diferencial estético que apesar de tudo, se aplica nos dias de hoje sem dúvida.
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