Quando se trata de filmes de ficção científica, ainda mais quando eles envolvem conflitos de robôs e monstros alienígenas, muitos torcem a cara, lembrando de antigas produções televisivas com o mesmo tema e efeitos toscos.

Mas “Círculo de Fogo” tem a direção de Guillermo Del Toro e, quem conhece os trabalhos do diretor por filmes como “Hellboy” e o tão bem falado “O Labirinto do Fauno”, tem noção de que o cara possui uma estética impecável e procura entregar a melhor produção possível. Situando a trama num futuro próximo, os Kaiju, gigantes monstros alienígenas que surgem no Oceano Pacífico através de um portal extradimensional localizado numa das fendas do “Círculo de Fogo”, deixam um rastro de destruição nos países que costeiam o oceano. Não por menos, esses países são potências econômicas como Estados Unidos, Japão, China, Austrália e Rússia e montam os Jaegers, enormes máquinas com poder bélico capaz de deter os Kaiju, cada robô operado por dois pilotos via neuroconexão, requirindo confiança e até um compartilhamento de lembranças. Raleigh Beckett (Charlie Hunnan) operava a Gypsy Danger juntamente com seu irmão Yancy (Diego Klattenhoff), mas um sofrido confronto faz com que Raleigh abandone a carreira e se dedique à construção de muralhas de proteção, até ser chamado pelo Marechal Stacker Pentecost (Idris Elba), comandante do projeto de defesa e que por sua vez sofre com a pressão das Nações Unidas que pretende encerrar o programa devido à sua ineficiência. Já na base em Hong Kong, Raleigh conhece e revê os veteranos do projeto, além da protegida de Pentecost, Mako Mori (Rinko Kikuchi), por quem Beckett desenvolverá um elo de empatia que será de extrema importância nas vindouras batalhas.

Detalhista por si só, Del Toro entrega juntamente com o roteirista Travis Beacham uma aventura extremamente detalhada, os ataques dos kaiju não são aleatórios (há explicações, intenções e até mesmo uma periodização deles), os populares de Hong Kong chegam até mesmo a venerar os monstros, supondo que eles foram enviados por seus deuses para punir os atos da humanidade e, no meio disso tudo, há aqueles que se aproveitam das carcaças dos kaiju e revendem no mercado negro, como Hanibbal Chau, vivido pelo divertido Ron Perlman. É claro que os Jaegers também tem suas características e designs distintos, como o chinês Crimson Typhoon, pilotado por três irmãos, e o russo Cherno Alpha, com todos os traços típicos da era soviética. Procurando se assegurar da verossimilhança desse universo, deixando tudo bem explicado, no entanto, ocorre que uma ou outra coisa fique um pouco confusa de entender no início e os diálogos dos personagens por vezes remetem aos de “Avatar”, simples, mas que ao mesmo tempo conseguem se satisfazer e há oportunidade para frases de efeito. A fotografia de Guillermo Navarro, já um colega de equipe de Del Toro, é colorida e traz muitos ângulos que beneficiam e muito os combates. Ademais, a conversão para 3D está excepcional, o cuidado aqui é primoroso (a profundidade não está distorcida, finalmente!), sendo indispensável a experiência no formato. A trilha sonora também é espetacular, o design de som é bem criativo e não se contém em ser barulhento, além dos temas icônicos assinados por Ramin Djawadi (sim, o autor da trilha da série “Game Of Thrones”!), que empolgam ainda mais. Parece que faltou explorar um pouco mais de profundidade entre os personagens principais, ainda mais quando se trata em compartilhar lembranças íntimas com outra pessoa, embora a trágica memória da infância de Mako tenha uma bela montagem em meio à tanta destruição.

Pessoalmente falando, eu estava bem indiferente quanto ao lançamento do filme, mas o tanto o universo criado quanto os combates em si foram divertidos o suficiente para me fazer ansiar pela confirmada continuação, que ainda não possui uma data de lançamento em meio a tantos outros projetos no qual o diretor está envolvido.

Obs.: Permaneçam na sala durante os créditos finais e apreciem as imagens que aparecem, além da cômica cena que vem em seguida.