Filmes de super-heróis não faltam hoje e só tendem a aumentar neste e nos próximos anos. Considerado por alguns um subgênero em declínio, há quem não leve mais a sério as quase-idênticas histórias de salvar o mundo com heróis bidimensionais e predominantemente norte-americanos. Longe de ser mais uma daquelas sátiras de mal gosto e de baixo orçamento, “Deadpool” vem em tempo de corrigir a inexplicável má introdução do personagem em “X-Men Origens: Wolverine“, além de adicionar um deboche sagaz enquanto propõe uma revisão sobre seus semelhantes.
Wade Wilson (Ryan Reynolds) era um mercenário qualquer que, com seu bom humor, acatava qualquer missão com uma boa recompensa e chance de diversão. Isso tudo até conhecer a sua bela alma gêmea, a garota de programa Vanessa (Morena Baccarin), com quem se dá muito bem não só no aspecto sexual. Dos meses que passam felizes juntos em suas aventuras com direito a muitas piadas de cultura pop (e assim se sucede durante o filme todo), é na aconchegante época do Natal que Wade faz uma proposta irrecusável a sua amada. Contudo, todo esse momento de felicidade seria rompido quando o casal descobre que Wade possui câncer terminal em várias partes do corpo, sem chance de uma cura legalizada, a não ser pelas mãos do insensível (literalmente) Francis/Ajax (Ed Skrein), que faz experimentos genéticos envolvendo mutação com vários recrutados. Ao passo em que Wade é curado, o relutante herói adquire sequelas de aparências desagradáveis e aí o seu filme solo, escrito pelos roteiristas do igualmente divertido “Zumbilândia” (Rhet Reese e Paul Wernick), vai se trata de uma jornada de vingança pessoal do jeito que as grande audiência gosta – mas se você espera muito sangue jorrando, é melhor ficar com os dois volumes de “Kill Bill“, ainda que aqui sobre mutilações.
Além de trazer um herói bastante incomum, desbocado e tarado, porém habilidoso com pistolas e facas, “Deadpool” se mostra interessante por trazer uma montagem alinear que desde já o distingue de seus títulos semelhantes. Pouco a pouco, vamos descobrindo as motivações de Wade ao som de muita música dos anos 1980 e também com a trilha retumbante de Tom Holkenborg, que traz muitos elementos da década que revelou Wham!, a dupla favorita de Wilson que mereceu até mesmo uma explicação a respeito da exclamação no nome. Sem mais delongas, o filme nos escancara muita ação, afinal, é isso o que o seu público clama, e a sequência do primeiro ataque contra os capangas em uma rodovia consegue ser um de seus melhores momentos, até ser impedido de agir pelo solene X-Man Colossus (muito mais brutamontes do que nos filmes anteriores, fisicamente) e sua aprendiz Míssil (Brianna Hildebrand), que acabam retribuindo uma mãozinha ao Deadpool.
O que diverte mesmo, sem contar as várias piruetas marciais do hiperativo personagem, são as quebras da quarta parede que Deadpool faz quase que constantemente, exibindo um carisma que Reynolds sempre foi capaz de expressar, além de mostrar o quão dedicado está para o seu personagem, evitando mais uma decepção aos fãs. Também não faltam deboches à celebridades (incluindo à própria estrela do título), indiretas a outros filmes da Marvel pela Fox (a mansão do Prof. Xavier que explode a cada ano, segundo a Míssil) e até brincadeiras sobre a própria produção, desde os créditos iniciais, além do momento em que Wade conversa com seu amigo de bar Weas (T.J. Miller) e este diz que um assunto a ser contado ali é bom para acrescentar no roteiro, além da ausência de outros X-Men por culpa do orçamento do estúdio.
Devendo apenas um vilão e asseclas de personalidades mais memoráveis (embora haja a possibilidade de ser proposital, no caso), algo que é um problema geral no Universo Marvel, alguns flashbacks acabam diminuindo o tom empolgante das lutas, cito aí a longa sequência do “tratamento genético”, por mais que Reynolds e Baccarin formem um bom casal romântico nada convencional. Talvez o filme dirigido pelo estreante Tim Miller esteja debochando de seu espectador por tudo o que representa, ou talvez seja uma forma de encarar as adaptações de quadrinhos de forma menos sombria e séria, megalomaníaca, politicamente correta, sem deixar de ser explosiva, mas se permitindo ser mais próxima do povo.
Se a Marvel considerava o Homem-Aranha o amigão da vizinhança, a Fox fez bom uso da sua munição ao mostrar que um super-herói também pode ter gostos duvidosos e falar palavrão como qualquer pessoa na rua. “Deadpool” faz aqui um “pouso de super-herói” exagerado, mas dos bons.
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