É mais um livro de sucesso entre o público jovem que chega aos cinemas com a bilheteria praticamente garantida graças aos seus milhões de fãs calorosos ao redor do mundo. Quer dizer, pode até ser mais um, mas a definição deste não é tão simples assim. Para começar, “A Culpa é das Estrelas” passa longe das fantasias românticas com seres de outro mundo como vimos em “Crepúsculo” e “Dezesseis Luas” e também em nada se parece com as distopias de “Jogos Vorazes” e “Divergente“. O autor John Green, nerd assumido e com muito orgulho, conquistou seus leitores com uma trama inteligente e emocionante que consegue ser romântica ao mesmo tempo em que trata seus temas com honestidade.
Hazel Grace (Shailene Woodley) é uma garota de 16 anos que vive com um câncer. Seus questionamentos sobre a vida e seus problemas, porém, muito mais tem a ver com a sua idade do que com seu estado de saúde. Seu primeiro grande impasse está centrado no livro Uma Aflição Imperial, pelo qual é aficionada. É daqueles que Hazel já leu quinhentas vezes, mas não se conforma com seu final. Isso porque o livro termina no meio de uma frase. Do nada. Considerando que a trama é narrada por uma garota com câncer, não fica difícil entender o porquê da história interrompida. A aflição de Hazel (com o perdão do trocadilho) se dá, na verdade, pelos outros personagens apresentados no livro. Ela quer saber que diabos aconteceu com eles, principalmente com a mãe da protagonista. Bom, também não fica muito difícil entender o porquê da obsessão de Hazel em saber como as pessoas ao redor de sua personagem favorita ficam após sua morte.
A relação de Hazel com a personagem é uma dessas analogias tão delicadamente tratadas por John Green ao longo da trama. Uma analogia bem do tipo que Augustus Waters adoraria. Também conhecido como Gus, ele pode ser considerado como o segundo problema de Hazel, mas em como toda boa história de amor, logo se torna uma solução. Hazel e Gus se encontram pela primeira vez no Coração de Jesus, local em que o grupo de apoio a adolescentes com câncer comandado por Patrick (Mike Birbiglia) se encontra. A ida de Hazel nas reuniões, aliás, acontece apenas pela insistência de sua mãe e seu pai (os incríveis Laura Dern e Sam Trammell), já que para Hazel ficar em casa assistindo “America’s Next Top Model“ é a programação perfeita. Mas como mãe sempre sabe do que fala, é no grupo que Hazel conhece Isaac (Nat Wolff), um garoto com câncer na retina que se torna seu amigo graças a estranha compatibilidade no senso de humor cético e irônico dos dois. O ponto de virada de Hazel acontece no dia em que Isaac leva ao grupo seu melhor amigo, Gus (Ansel Elgort), quem venceu um câncer que lhe rendeu uma perna prostética. A atração entre Hazel e Gus é instantânea e o melhor: recíproca.
No início do filme, Hazel Grace introduz sua história dizendo que aquela, diferente das outras, não se trata de uma jornada perfeita de contos de fadas. De fato, seus personagens são bastante verossímeis e seus dramas já foram muitas vezes compartilhados na vida real. A profundidade do amor de Hazel e Gus, como vemos a partir de então, porém, é ainda maior do que de qualquer conto de fadas. É através da relação dos dois, assim como da relação de Hazel com seus pais, seus amigos e até futuramente com o autor de Uma Aflição Imperial (papel de Willem Defoe), que “A Culpa é das Estrelas” se mostra não um relato ou uma história sobre o câncer e sim sobre a vida. As lágrimas compartilhadas na sala de cinema repleta de jornalistas com os quais assisti a exibição do filme com certeza não se davam de tristeza, mas de pura emoção pela sinceridade dos questionamentos colocados em tela.
O grande trunfo deste conto de amor é ir contra o romance meloso e improvável que poderia fazer garotinhas se derreterem, assim como não se deixa cair também na melancolia mórbida que seu drama poderia seguir. Green encontra um caminho que mistura diferentes gêneros e sentimentos para retratar realisticamente um episódio de “garoto encontra garota” diferente de qualquer outro. Sim, mais uma vez é preciso dar créditos a John Green. Coisa de fã, talvez. Mas muitos créditos também precisam ser dados a dupla de roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber (“500 Dias Com Ela” e “The Spectacular Now“) – de quem também sou fã, aliás. O estilo de Neustadter e Weber se encaixa muito bem com o de Green, já que os três parecem seguir o autor e diretor John Hughes, que tem entre seus sucessos dos anos 1980 os filmes “O Clube dos Cinco” e “Curtindo a Vida Adoidado”. A comparação é quase inevitável, afinal, o trio gosta e sabe muito bem como dar vida a adolescentes e mostrar as facetas verdadeiras das relações entre eles e suas questões sobre a vida, passando longe dos clichês e mesmices. Curiosidade: Scott Neustadter e Michael H. Weber já assinaram um novo projeto com John Green e estão no processo de adaptação do livro “Cidades de Papel” para os cinemas.
O diretor Josh Boone (“Ligados pelo Amor“), por sua vez, sucede na responsabilidade de levar um best seller tão aclamado e amado das páginas e palavras de um livro e de um roteiro para a vida real, para as ações em carne e osso de um elenco pra lá de talentoso. Uma adaptação que promete não apenas tocar ainda mais pessoas, como fazê-las se apaixonar por Hazel, Gus e sua bela trajetória. Afinal, não é todo dia que testemunhamos uma comemoração a perfeição do imperfeito como “A Culpa é das Estrelas” faz. Não importa se Hazel se considera uma bomba relógio, se o significado da vida para Gus é completamente o oposto da visão dela ou se Isaac escolhe sofrer mais por seu coração partido do que pela perda de visão. Nesta história, como no dia-a-dia, existe a frustração da mesma maneira que existe a paixão e nenhum dos sentimentos entre estes é encoberto ou mistificado. A vida é feita para ser vivida e se lembrar disto nunca é demais.
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Crítica 02 | “A Culpa é das Estrelas“, por Fran Lima
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