Obras literárias de grande apelo popular são sempre acometidas pela grande dificuldade numa adaptação cinematográfica, seja tão somente pelo processo de produção – escalação de elenco, direção e equipe técnica -, como expressamente pelos detalhes que compreendem a paixão dos fãs pela literatura do autor. A obra prima de Markus Zusak, “A Menina Que Roubava Livros“, demorou um bom tempo para ganhar os cinemas, até que, no início de 2013, obteve o aval para sua tão esperada estréia nos cinemas, com comando de Brian Percival – conhecido por seu trabalho na premiada série “Downton Abbey“.

 

Numa releitura bastante dócil, diferente da frieza e contemplação presentes em todos os relatos da estória de Zusak, a visão aérea de Percival para  “A Menina Que Roubava Livros” é a prova de que o cinema sempre pode se submeter às possibilidades narrativas. Não se prendendo a detalhes que somente cabem à literatura, e entregando àquilo que é perceptível aos olhos do espectador, o diretor faz uma acurada construção da heroína Liesel Meminger – interpretada pela irregular (mas bela) Sophie Nélisse – sempre deixando que seus anseios e inocência sejam expressos naturalmente em seus atos, compreendidos por movimentos de câmera tão delicadamente explorados. Quase um estudo sobre o exercício infantil (curioso e inocente) em meio à hostilidade de uma Alemanha em Guerra, o horror expressionista da atmosfera visual e sonora do filme se tornam por menores meio à relação -amorosa- pré-estabelecida nos primeiros instantes do longa -entre Liesel e o encantador Rudy (Nico Liersch). Se fazendo de planos no melhor estilo Steven Spielberg, ‘manipulador de audiências’, os problemas de “A Menina Que Roubava Livros” se desvendam a partir do momento que o tato de Percival, para além de sua notável competência fílmica, se torna questionável quanto à lentidão rítmica num segundo momento da narrativa, onde o comodismo se faz personagem.

 

 

Tão ingênuo e pueril quanto imperfeito, apesar das entrelinhas e da sensação de fluxo inerte, o que Percival e elenco –em especial GeoffreyRush e a maravilhosa Emily Watson – alcançam nessa adaptação bonitinha e eficaz de “A Menina Que Roubava Livros” é, sobretudo, uma forma de amenizar o âmago e a frieza que acomete toda a obra na qual se baseia. Se por um lado o que potencialmente poderia vir ser uma memorável adaptação acaba decepcionando por nunca ser ambiciosa o suficiente, a sutileza de Percival por toda a aventura histórica de Liesel Meminger, em seus 131 minutos, é, em toda comoção, uma prazerosa (e necessária) experiência. É o Cinema em sua forma essencialmente bela e nostálgica.

 

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