O Olhar de Cinema – Festival Internacional de Cinema de Curitiba selecionou para sua quarta edição dez filmes locais para comporem a mostra Mirada Paranaense: “Chinês é Tudo Igual”, “Dessas Coisas que Acontecem”, “Ev’ry Time we Say Goodbye”, “Gastronomia Urbana”, “Geladeira”, “Je Proclame la Destruction”, “Não se Vive por Nada”, “Paixão Nacional”, “Palhaços Anônimos” e “Todo Tempo”, sendo que desses “Gastronomia Urbana” é o único longa-metragem. Falarei aqui a respeito dos curtas.
Antes de começar, uma introdução. Acho interessante fazer um breve comentário a respeito dos filmes, produzidos aqui no estado. E que fique claro que o que falarei é realmente isso, um breve comentário, baseado não só em minha opinião e bagagem pessoal, mas também no comentário de várias pessoas nas saídas das salas de cinema. Falarei deles na ordem em que os assisti, de acordo com a programação proposta pela curadoria do Festival, a fim de começar um diálogo a respeito da produção local.
O primeiro, “Ev’ry Time we Say Goodbye”, achei um tanto hermético e meio lento. A proposta não ficou muito clara, e o filme se arrasta, sem ter um desfecho interessante. Particularmente, não é o tipo de filme que me agrada, porém ouvi vários elogios de pessoas que estão mais familiarizadas com filmes mais contemplativos.
O segundo, “Geladeira”, possui uma proposta muito interessante, um homem que vive em um apartamento com temperaturas baixíssimas, com todos os móveis e objetos congelados. Porém o filme não se completa, a narrativa é fraca e a sensação de que nada acontece persegue o espectador do começo ao fim. Parece uma boa abertura para um filme que não existe.
O terceiro filme me agrada bastante. “Paixão Nacional” tem enredo bem construído e ele se resolve muito bem dentro do que se propõe. É um filme com uma narrativa mais clássica do que os demais, o que acaba agregando um público maior. O fato de contextualizar o enredo durante a Copa do Mundo, em 2014, e de colocar o personagem da periferia curitibana em contato direto com uma intercambista alemã, traz uma sensação de contemporaneidade ao filme, quase até um certo frescor.
O último filme dessa primeira programação, “Chinês é Tudo Igual”, foi de todos o que mais gostei. Dos quatro, é o que possui a proposta mais simples e o que me cativou mais. Com imagens gravadas no Brasil e na China, a diretora cria uma atmosfera muito divertida e bem questionadora a respeito de etnias.
A segunda mostra, com cinco filmes, particularmente me pareceu um pouco mais fraca do que a primeira.
O filme que abriu essa segunda programação, o documentário “Todo Tempo”, porém, se salva. Uma reflexão a respeito da memória, da passagem do tempo e de como encaramos tudo isso cria um ambiente bem sensível e profundo, com imagens muito interessantes. Porém, alguns momentos os diálogos estavam meio confusos, talvez devido ao sotaque da região, ou algum outro fator, o que dificultou a compreensão em algumas partes.
“Não se Vive por Nada” já de todos os filmes da Mirada Paranaense foi o que menos me agradou. Poderia descrever como se fosse um filme de apartamento na praia, onde não há uma narrativa clara e evidente, os planos são longos demais, bem contemplativos e parecem não ter muita conexão uns com os outros, fora o fato de se passarem na praia. A narrativa, em tom monótono, dissertando a respeito de questões existenciais só potencializam o desagrado. Resumindo, é um filme bem chato que não fede nem cheira. Para mim, pelo menos.
O filme do meio, “Je Proclame la Destruction”, é um filme ácido e provocativo. Não tenho muito o que comentar a respeito. A utilização da repetição em looping de dois planos de um filme já existente, cria uma espécie de cacofonia na mente, que reverbera. Ainda não sei o que pensar a respeito, fora que é intrigante.
O penúltimo filme da Mirada Paranaense deste ano, “Palhaços Anônimos” tem uma proposta que poderia se tornar muito engraçada e interessante, se bem conduzida. Porém o excesso da tentativa de fazer com que tudo parece meio encenado fez que o filme ficasse com cara de uma grande tentativa de fazer algo engraçado. Porém não passa disso. Faltou roteiro, faltou direção, faltou filme.
Sobre o último filme, “Dessas Coisas que Acontecem”, sou suspeita para falar pois fiz parte da equipe de produção. Entretanto, tenho a liberdade de dizer que não é um dos meus filmes favoritos. Assim como outros, possui uma proposta interessante, a de duas pessoas ficarem trancadas no terraço de seu prédio até que alguém resolva subir, libertando eles finalmente. Porém, o curta é bem monótono, nada parece acontecer. Ouvi elogios quanto a esse ponto, pela abordagem de ações cotidianas que não necessariamente façam a história andar. Até concordo que é interessante algumas inserções assim dentro de uma história, trazendo algo mais real, porém não me agrada muito um filme inteiro de cenas assim. Apesar de ter alguns momentos engraçados, ainda assim me parece que falta algo.
De forma geral, os filmes todos têm propostas interessantes, mas ainda é claro uma certa imaturidade por parte de alguns realizadores em saber dar espaço para uma boa ideia, para transformá-la em um bom filme. Tudo bem que “bom” é relativo e varia muito de gosto para gosto, mas o fato de várias pessoas saírem da sala de cinema falando que não entenderam nem a ideia principal do filme é algo a ser pensado.
O Festival segue até hoje, e tem uma programação em horários variados a partir das 14h. Os ingressos custam R$6,00 a inteira e R$3,00 a meia entrada, e os filmes estão sendo exibidos no Espaço Itaú de Cinema, no Shopping Crystal, e no Cinesystem Curitiba do Shopping Curitiba.
Não deixe de conferir as novidades do CineOrna através das nossas redes sociais:
Facebook | Twitter | Filmow | G+ | Instagram | Tumblr | Pinterest | YouTube