Desde que foi anunciado um remake para “RoboCop: O Policial do Futuro” sob a direção de José Padilha (“Tropa de Elite 2“), muitos fãs do ciborgue desdenharam a ideia de que a nova versão traria uma visão muito diferente do filme original dirigido por Paul Verhoeven, com sua pegada cyberpunk típica dos anos 80. Receios confirmados a parte, Padilha foi esperto o suficiente para apresentar essa nova roupagem com temas que ele tão bem dominou em seus trabalhos anteriores, entregando um filme igualmente impactante e não menos reflexivo.

 

Baseando a história desta vez em 2028, “RoboCop” começa levantando a questão a respeito do uso da engenharia robótica e seus drones para segurança, tópico que aos poucos vem se discutindo por aí. No caso, somente os Estados Unidos que abriga a Omnicorp, empresa multinacional que produz os drones, se mantêm contrários em colocar os robôs no país, enquanto o resto do mundo controla o crime por meio das máquinas, evitando mortes na maioria dos casos. Atrás de uma alternativa para ingressar no mercado estadunidense, o chefão da Omnicorp, Raymond Sellars (Michael Keaton), procura algo que traga empatia ao povo e não é por acaso que sua atenção caia em Alex Murphy (Joel Kinnaman), um honesto detetive policial e pai de família que está a ponto de prender um traficante de armas da cidade, mas assim como todo personagem dos Tropas que investiga a fundo a corrupção, sofre sérias consequências.

Preocupada com o filho que precisa de um pai, cujo corpo está praticamente todo prejudicado, Clara Murphy (Abbie Cornish) é a peça fundamental para que a Omnicorp transforme Alex no ciborgue detentor do crime que trará ainda mais lucros pra empresa e segurança para a cidade de Detroit, mas a nova fase do detetive é repleta de adaptações e aceitações sobre quem (ou talvez o que) Murphy é agora. Por falar na relação familiar, aí está um dos pontos frágeis do título; com a produção tão preocupada na parte tecnológica do seu personagem principal, fica uma estranha sensação de que Clara e o filho David pareçam tão limitados para que no terceiro ato sirvam mais como meros motivos ao herói (Cornish procura criar uma personagem forte, mas ao desenrolar do roteiro suas ações se tornam confusas). Por outro lado, Kinnaman, rosto praticamente desconhecido, impõe presença com um semblante bondoso e firme, desenvolvendo também um bom potencial para as intensas cenas de ação, sem deixar ser ofuscado pelo trabalho igualmente competente dos atores veteranos Gary Oldman e seu dedicado Dr. Dennett Norton, Keaton se apresentando carismático, porém ameaçador, e Samuel L. Jackson com seu patriota Pat Novak e uma versão hi-tech dos programas policiais brasileiros, o The Novak Element, só que desta vez pendendo mais para um reality show formador de opinião onde a criminalidade e seu combate se tornam um espetáculo.

 

 

O fato de José Padilha ter chamado seus habituais colaboradores de seus filmes anteriores é outro ponto a favor para “RoboCop“. Com a exceção de Pedro Bromfman apresentando uma trilha por vezes descontraída demais ou inspirada nos temas compostos por Hans Zimmer, a fotografia precisa de Lula Carvalho e os cortes ágeis de Daniel Rezende na edição fazem com que o filme se torne bem mais instigante, segurando a atenção até o final da sua projeção. Apesar da seriedade que o circunda, “RoboCop” proporciona também bons momentos de diversão e mostra que um produto globalizado pode muito bem ser eficiente sem necessidade de superar predecessores.

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