Para quem tem devoção pelo cinema de fantasia impulsionado por Harry Potter e O Senhor dos Anéis, a despedida agridoce do terceiro O Hobbit foi logo reconfortada com as notícias de que o aclamado e igualmente fantasioso jogo do Universo Warcraft ganharia seu primeiro longa-metragem sob os cuidados da Universal Pictures e supervisado pela própria desenvolvedora, a Blizzard Entertainment. Além de ter que se provar igualmente grandioso, neste aspecto, “Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos” revela ser repleto de várias tomadas épicas de batalhas, além de criaturas e elementos mitológicos com visuais caprichados para o deleite de qualquer fã e gamer. Embora ambicioso, é em seu desafio essencial, aquele de superar o estigma de que filmes baseados em games são ruins, que o título se compromete em uma narrativa pouco aprofundada, não satisfazendo aqueles dispostos por um bom divertimento extra fabuloso.
Paula Patton encarou treinamento passado para “Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos“
Escrito por Charles Leavitt (“No Coração do Mar“, “O Sétimo Filho“) e Duncan Jones, que também dirige, em Warcraft não há espaço para o maniqueísmo, ainda que bem longe de ser o que “Game Of Thrones” um dia foi. Há heróis e vilões em ambas as partes. Draenor, o mundo dos Orcs, está comprometido e o feiticeiro Gul’dan (Daniel Wu) conjura o Portal Negro utilizando a Vileza para transportar sua Horda para Azeroth, um mundo compartilhado por Homens, Anões, Elfos e Magos. Entre orcs tão repugnantes e guerreiros, existem aqueles do Clã Lobo do Gelo, que seguem a conduta de não fazer vítimas inocentes, chefiados por Durotan (Toby Kebbell), um respeitado líder que se mostra avesso às ações nefastas de Gul’dan.
Do lado dos humanos, a notícia de que uma ameaça desconhecida tem derrotado várias guardas do reino de Azeroth chega ao conhecimento de Lothar (Travis Fimmel) e de Hadggar (Ben Schnetzer), um jovem mago que renunciou seus votos, muito embora não dispense suas habilidades mágicas. Com a permissão do Rei Llane (Dominic Cooper e uma peruca forçada), o guerreiro e o jovem partem ao encontro do recluso Guardião de Azeroth, o também mago Medivh (Ben Foster), talvez o único capaz de derrotar a Vileza. Enquanto a trama parece andar com seus temas razoavelmente estabelecidos, dispensando longas apresentações, não tardam a aparecer os pontos fracos do filme, deixando um saldo cada vez mais negativo.
Com toda a sorte do mundo em ser uma personagem dúbia interessante, acaba que a mestiça Garona (Paula Patton) se mostra um dos maiores problemas de “Warcraft“. A todo o momento em que a ex-escrava de Gul’dan aparece em cena, existe uma sensação confusa de que há um excesso de confiança sobre a meio-orquisa, recebida de braços abertos até demais pelos humanos. Não só pela parceria que ela acaba estabelecendo com o Rei Llane, mas pela esposa deste (interpretada por Ruth Negga, dispensável, ainda que sugira ser uma figura totalmente bondosa) e isso tudo se agrava quando é sugerido um vergonhoso romance com Lothar numa das circunstâncias mais pesarosas ao personagem. É evidente também o descuido de Jones com a direção de elenco, deixando seu elenco transparecer feições incoerentes com o que se pede nas cenas de maior intensidade dramática, somando também uma irrelevância quanto ao trabalho dos atores que dão seus movimentos e vozes ao orcs, soando e se comportando com pouquíssima distinção.
Repleto de figurinos caprichados desenhados por Mayes C. Rubio (“Avatar“), além de elementos cênicos bastante convincentes (volta e meia arrojados), chega a ser intrigante os motivos por quais o resultado final de “Warcraft: O Primeiro Encontro De Dois Mundos” decepciona. Dos cortes bruscos entre cenas que prejudicam o trabalho dinâmico dos bons enquadramentos decupados por Duncan Jones; que cada vez mais distanciam o interesse pela narrativa, esquecendo de fornecer melhores passes estratégicos e políticos aos seus personagens; da química esterilizada, deixando heróis e vilões pouco envolventes, chega ser estranho sair e falar que apenas o visual estava bonito, logo quando os video games atuais se comportam cada vez mais de forma “cinematográfica”e com roteiros surpreendentes. Os gráficos, portanto, devem auxiliar a história e não sobrepujá-la.
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