O longa independente mostra a trajetória de Jobs desde os seus dias de hippie até tornar-se uma das figuras mais icônicas do século 21. Ashton Kutcher interpreta Steve Jobs, KucAhna O’Reilly (“Histórias Cruzadas“) interpreta Chris-Ann Brennan e Steve Wozniak é vivido por Josh Gad (“The Book of Mormon“). Matt Whiteley escreve o roteiro, que tem direção de Joshua Michael Stern (“Promessas de um Cara de Pau“).
No caso de Steve Jobs, a idolatria por algumas pessoas vai além e se torna uma verdadeira religião. Talvez seja justamente isso que o fundador da Apple tenha imaginado quando criou a gigantesca empresa, que mesmo após a sua morte, continua sendo um culto toda vez que se lança um novo produto. O filme “Jobs“, que trás no papel principal Ashton Kutcher trás à toda um Steve nem vilão e nem mocinho, mas não deixa de ser um grande tributo ao trabalho dele na construção da Apple. Um exercício interessante antes de assistir “Jobs” é conferir o filme “Piratas do Vale do Silício“, de 1999, no qual busca contar um pouco da fundação da Apple e da Microsoft, essa pelo bilionário Bill Gates, que nessa película de 2013 é citado apenas como um ladrão de informações criadas pela Apple. Ambos os filmes contam a trajetória de Jobs mais pelo viés profissional fazendo poucas referências à vida pessoal.
Mesmo não conhecendo a fundo os eventos e nem tendo lido a biografia de Steve Jobs, percebe-se que parte das críticas feitas ao filme por Steve Wozniak (fundador da Apple junto com Jobs) procedem. Nota-se que é dada muita ênfase à figura de Jobs, às suas decisões, às suas ideias e ao seu modo de conduzir os negócios. Os demais personagens, apesar de provavelmente terem participado bem mais ativamente dos acontecimentos, ficam relegados quase a meros coadjuvantes. Não que “Jobs” não tenha seu mérito, isso é inquestionável. Mas o roteiro exagera ao tentar induzir o espectador a achar que Jobs foi o principal – senão, único – responsável para a Apple ser o que é. Steve Jobs vai de underdog a gênio inovador quase num piscar de olhos. Sim, é clichê. Assim como é extremamente clichê a cena em que ele tem sua epifania sobre o futuro a seguir.Contudo, discordo de Wozniak quanto à responsabilidade de Ashton Kutcher nessa visão de Jobs. O ator apenas interpretou o que estava no roteiro. Kutcher, aliás, apesar de bastante inspirado em alguns momentos – a ponto de fazer o espectador “ver” Jobs na tela – em outros, pende para a caricatura de um modo que chega a incomodar. É necessário ressaltar o excelente trabalho de Mary Vernieu na seleção do elenco. O “garimpo” deu um ótimo resultado, pois os atores escolhidos se assemelham bastante a seus correspondentes reais.
Ainda sobre semelhança, a cenografia e o figurino remetem o público diretamente aos anos 70, logo no início. A reconstrução de época é muito eficiente, e mesmo o efeito “foto antiga” do filme não chega a incomodar demais. Para completar a imersão, destaque para a trilha sonora bastante emblemática. A fotografia também é boa, favorecendo ângulos que deixem Kutcher ainda mais parecido com Jobs. Talvez “Jobs” não seja tão interessante para quem já conhece a sua trajetória, afinal com apenas duas horas de projeção, muita coisa interessante é ignorada. A sua importância na Pixar, por exemplo, nem mesmo é citado no filme. Um período que corresponde sua saída da Apple até seu retorno em 1997 é um grande vazio que mostra apenas um Jobs mais voltado para uma vida caseira. Talvez Jobs não seja o gênio que muitos veneram, tão pouco o único responsável por incríveis aparelhos que usamos hoje, mas uma coisa é certa: se não fosse por sua visão e entendimento de pessoas, os seus companheiros seriam só mais um ao meio de muitos que queriam se destacar na revolução digital. Jobs pode não ser um herói, tão pouco taxa-lo de vilão devido à exploração trabalhista que foi responsável. Jobs era mais um homem que sonhava e não sabia como lidar com humanos, apesar de entende-los como ninguém. Um cara que conseguiu “tocar o coração” de muita gente e que será eternamente um lendário ícone.
Crítica:
01 | “Jobs“ por Carlos Pedroso