A prática de bullying nas escolas parece ser um assunto a render por muito tempo, com suas formas a se mutarem paralelamente enquanto os estereótipos das vítimas e dos agressores permanecem praticamente idênticos. Em “Carrie: A Estranha“, mais uma readaptação do romance original de Stephen King, o que toma conta é a atualização do conto para os dias atuais e pouco impressiona no decorrer do filme.

Situado em Maine (estado onde vive o autor), Margaret White (Juliane Moore) sofre a dar a luz a uma menina, a qual considera um “câncer” e fruto do pecado, querendo se livrar da recém-nascida até a afeição tomar conta. Os anos se passam e Margaret se tornou uma religiosa devota, com incontáveis crucifixos e bíblias espalhados pela casa, enquanto sua filha Carrie (Chlöe Grace Moretz) se tornou uma recatada estudante do ensino médio com suas roupas de crente costuradas pela mãe e cobrindo todos os membros do corpo, pra não dizer o cabelo preso, tudo pra não demonstrar vaidade. Desabituada a tratar de assuntos íntimos com a mãe, Carrie entra em choque ao notar que está sangrando e se desespera ao pedir socorro para as colegas no vestiário, o que acaba sendo um episódio vexaminoso para ela, sendo inclusive filmado por celular por uma das garotas e posteriormente adicionado no YouTube. Ao invés de confortar, a mãe praticamente repreende a filha por sua primeira menstruação, seguida de um castigo, que nada mais é do que ficar rezando num quartinho. Assim que Carrie tem a infelicidade de descobrir a repercussão do vídeo graças às provocações na escola, sendo protegida ocasionalmente pela professora de Educação Física, a garota toma consciência de sua paranormalidade e começa a por em prática sua telecinese. Dá até pra imaginar que o Prof. Xavier irá aparecer a qualquer instante convidando-a para fazer parte dos X-Men.

Na metade da narrativa os estudantes se preparam para o baile de formatura e Sue Snell (Gabriella Wilde) pede para que seu namorado Tommy (Ansel Elgort) leve Carrie em seu lugar, punindo-se por ter permitido que suas colegas tenham feito aquilo com a menina. Há toda uma tensão sexual entre Tommy e Carrie, ainda que pareça inacreditável tanto para o espectador quanto para os personagens da história (a diretora Kimberly Peirce trata de valorizar o alto e escultural corpo do rapaz), Tommy se afeiçoa pela menina. O pavor de Margaret é imenso, temendo que a filha perca a virgindade do mesmo modo que perdeu quando era mais nova; contudo, Carrie logo descobre que pode tirar vantagem da telecinese, conseguindo domar sua cada vez mais surtada mãe, desconhecendo o perigo que lhe aguarda na festa.

 

 

Considerando ter uma visão fresca acerca do filme (afinal, não li o livro muito menos assisti às versões anteriores), “Carrie” me pareceu pouco inspirado e sem grandes atuações, com um final esculhambado típico de algumas obras de King. As vilãs são tão esquisitas e feias que fazem Carrie parecer uma perfeição de garota, mas é o trabalho de Juliane Moore que em partes rouba a cena. Completamente assustadora, graças ao trabalho de maquiagem que lhe confere um cabelo todo quebradiço e o rosto mais parecendo uma caveira, a experiente atriz mostra o quão desgastante se tornou a fervorosidade pela religião aliada a um arrependimento passado, assegurando-se de que não venha acontecer o mesmo com a filha, ainda que essas atitudes se tornem enfadonhas no decorrer do filme, mais por se mostrarem praticamente idênticas ao que já fora feito numa cena anterior. Chlöe, que gradativamente se destaca cada vez mais em seus papéis, aqui muito se parece perdida, em especial na cena onde seus poderes atingem um ápice, esboçando gestos e expressões faciais das mais confusas possíveis. Com uma contemporização rasa, essa versão de “Carrie: A Estranha” pouco ousa, deixando a vingança, o pesar e o fascínio praticamente a esmo. 

 

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