Quem viveu no Brasil entre as décadas de 60 e 80, ou estudou um pouco da história brasileira, sabe que durante a ditadura qualquer tipo de manifestação política contra o regime, não apenas nas ruas, mas também nos meios de comunicação, era proibida. Por isso mesmo foi estabelecida a censura prévia de programas de TV, filmes, publicações em periódicos e, principalmente, da música.
Grandes artistas brasileiros foram alvos constantes dos censores à época. Algumas canções que revelavam a insatisfação do povo com o governo ou a subversão dos valores pregados pelo regime, nem viram a luz do dia, enquanto outras foram modificadas. Isso não é algo que aconteceu apenas no Brasil. A música sempre foi usada por aqueles que lutam pela liberdade, e por isso mesmo, sempre foi alvo da censura dos regimes totalitários.
Em “V de Vingança”, filme de 2006, baseado na graphic novel de mesmo nome escrita por Alan Moore, isso não é diferente. Protagonizado por Natalie Portman e Hugo Weaving, o filme tem como personagem principal V, que busca a libertação de uma Londres aprisionada por um governo fascista, liderado pelo Alto Chanceler Adam Sutler. Para chamar a atenção da população, V explode um prédio, o Old Bailey. Mas antes disso, como um aviso, uma música orquestral soa nos alto-falantes de Londres. É “1812 Overture”, de Tchaikovsky, música que a partir daquele momento passa a ser censurada pelo governo.
O filme ainda conta com outras músicas em que há claras referências a revoluções, como é o caso de “BKAB”, de Ethan Stoller, em que foram adicionadas partes de discursos de Malcolm X e da feminista Gloria Steinem, e “Street Fighting Man”, dos Rolling Stones.
A música em “V de Vingança”, entretanto, não é apenas usada como símbolo da revolução buscada por V, mas também para demonstrar a humanidade do personagem. V não é um super-herói, e sim um ser humano de moralidade ambígua, que tem virtudes, mas também tem muitas falhas. Apesar de desejar libertar a sociedade de um governo unipartidário e opressor, V também quer saciar sua sede de vingança, e no meio desse processo acaba conhecendo Evey.
É em alguns momentos passados entre V e a personagem interpretada por Natalie Portman que a música do filme toma outros rumos, distanciando-se da revolução. Ao som de “I Found a Reason”, cantada por Cat Power, V fala que tem mais 800 músicas em sua Jukebox, e que já ouviu todas, mas nunca dançou ao som de nenhuma delas. Momentos depois, Evey vai embora, e V chora. Seja para concretizar seus planos de vingança, ou para libertar Londres, V sabe que está sacrificando sua própria felicidade, assim como os pais de Evey já fizeram um dia.
Já às vésperas da revolução, V cita uma frase atribuída à anarquista russa Emma Goldman: “uma revolução sem dança é uma revolução que não vale a pena”, e então pede para Evey dançar com ele, enquanto ao fundo ouvimos “Bird Gerhl”, cantada por Antony and The Johnsons. É um dos últimos momentos de V como um simples homem.
No final, “1812 Overture”, de Tchaikovsky, toca novamente nos alto-falantes da cidade. O prédio do Parlamento explode, a revolução se concretiza, e V se torna um mártir. Perguntada então sobre quem era V, Evey responde: “ele era Edmond Dantès, e ele era meu pai, e minha mãe, meu irmão, meu amigo, ele era você, e eu, ele era todos nós”. O homem morreu, mas a ideia por ele defendida sobreviveu.
“V de Vingança” pode não agradar a todos, seja pelo tema espinhoso, ou mesmo por não seguir fielmente a graphic novel que inspirou o filme, mas não há como negar que a trilha sonora é cativante. Tanto o instrumental composto especialmente para o filme por Dario Marianelli, quanto as canções interpretadas por Cat Power, Julie London e Antony and the Johnsons, além das músicas que estão no filme mas não foram incluídas no álbum da trilha sonora oficial, como “Street Fighting Man”, dos Rolling Stones, “BKAB”, de Ethan Stoller, e “Garota de Ipanema” e “Corcovado”, de Tom Jobim, dão um toque especial ao filme.
Abaixo você fica com a lista das músicas incluídas no álbum da trilha sonora oficial de “V de Vingança” (V for Vendetta: Music from the Motion Picture). Se quiser saber um pouco mais sobre o filme e ouvir algumas músicas para embalar um protesto, ouça o próximo Cinematopeia.
1. “Remember Remember”
2. “Cry Me a River” (Escrita por Arthur Hamilton e cantada por Julie London.)
3. “…Governments Should Be Afraid of Their People…”
4. “Evey’s Story”
5. “Lust at the Abbey”
6. “The Red Diary”
7. “Valerie”
8. “Evey Reborn”
9. “I Found a Reason” (Escrita por Lou Reed e Cantada por Cat Power.)
10. “England Prevails”
11. “The Dominoes Fall”
12. “Bird Gerhl” (Escrita por Antony Hegarty e cantada por Antony and the Johnsons.)
13. “Knives and Bullets (And Cannons Too)” (Escrita por Dario Marianelli e Pyotr Ilyich Tchaikovsky.)
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