Desde que comecei a acompanhar os Oscars em 2009, acho que esse é o primeiro ano que consigo ver todos os indicados a Melhor Filme antes da entrega dos prêmios. Apesar de eu ter gostado da metade dos (oito) indicados, senti que o obviês da premiação chegou em seu ápice. A previsibilidade de 80% dos indicados pôde ser observada ao longo de 2014, e não é muito difícil concluir que o Oscar continua errando a mão na hora de diversificar os concorrentes, escolhidos a dedo durante a temporada de premiações, por razões tão primárias quanto uma produção dos Weistein sobre um matemático homossexual que driblou Hitler.
A grande surpresa na categoria (e eu digo surpresa porque tem uns 5/6 anos mais ou menos que os filmes do Eastwood são escolhidos no pedra-papel-ou-tesoura para ganhar visibilidade) é “Sniper Americano” e suas seis indicações. Aliás, falando no Clint, “Sniper Americano” é de longe o filme mais interessante dessa temporada, seja pelas polêmicas que o envolvem, ou pelo apelo ciente de Clint Eastwood em lançar um projeto como esse numa época propícia, afinal, visão é realmente para poucos quando se trata de Hollywood.
Não gosto do rumo e das proporções que as discussões sobre os indicados ao Oscar tem tomado, então, para evitar a fadiga, ou um comentário com propriedade, vou preferir me reter de comentários mais profundos sobre a validade de cada um e me ater somente ao meu gosto pessoal. Logo, minha preferência atualmente seria essa:
“Sniper Americano“, Clint Eastwood
Um ponto comum entre “Sargento York” (Howard Hawks) e “Perseguidor Implacável” (Don Siegel), “Sniper Americano” é Clint Eastwood elevando sua transfiguração à máxima potência. Um Cinema que está sempre construindo e contestando sua própria imagem, esse é, sem dúvida, seu filme mais imperfeito desde “Gran Torino”, e ao mesmo tempo sua obra mais corajosa. A essa altura do campeonato, aliás, vale mais ser esperto que qualquer outra coisa; e as discussões sobre “Sniper Americano” falam por si só.
“Selma: Uma Luta Por Igualdade“, Ava DuVernay
Ava DuVernay é esperta demais para pensar uma cinebiografia de Martin Luther King com o fetiche do discurso. Não é a toa, então, que “Selma: Uma Luta Por Igualdade” seja bem mais uma afirmação legítima de um movimento civil, levando em consideração aspectos que perpetuaram os noticiários de todo o planeta em 2014 à respeito de Ferguson. Um filme que dialoga com seu público sem qualquer pretensão de manipulá-lo ou confrontá-lo (e isso o aproxima muito de “Sniper Americano“), “Selma: Uma Luta Por Igualdade” me soa bem mais como DuVernay clamando pelo diálogo elucidando Luther King como catalisador disso.
“O Grande Hotel Budapeste“, Wes Anderson
O que eu mais gosto em “O Grande Hotel Budapeste” é em como a estética do Wes Anderson é apenas um recurso visual para a narrativa, qual é seu real interesse aqui. A maneira como a metalinguagem encontra o exercício de autoafirmação e desenvolve os personagens, e seus temas por consequência, torna essa pequena pérola uma das coisas mais deliciosas que Wes Anderson poderia oferecer.
“Boyhood: Da Infância à Juventude“, Richard Linklater
A maneira como foi feito pode ter prejudicado a análise de “Boyhood: Da Infância à Juventude” quanto narrativa, mas eu continuo pensando esse universo particular de Linklater como uma espécie de válvula de escape das indagações que pairam na cabeça do diretor e seu protagonista. É quase como se Richard Linklater visse no próprio Cinema, e por consequência na experiência do espectador, uma espécie de conforto através sentimentos ali compartilhados.
“Whiplash: Em Busca da Perfeição“, Damien Chazelle
Eu perdi um pouco do tesão inicial que senti por “Whiplash: Em Busca da Perfeição” depois da revisão que fiz dele, mas a maneira como Chazelle pensa a estética e o (des)controle visual do filme, a medida que o protagonista cai numa emboscada atrás de outra por conta própria, vemos aqui o genuíno e autêntico auto deboche que “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” tentou a todo custo fazer.
“O Jogo da Imitação“, Morten Tyldum
Esse filme continua impecavelmente limitado, e Bennedict Cumberbach continua tão técnico quanto Meryl Streep interpretando Margareth Tatcher. Ou seja, só possuo indiferença.
“A Teoria de Tudo“, James Marsh
Eu realmente fico me perguntando qual a necessidade disso, já que é um filme que se pretende ser uma cinebiografia, mas não move um dedo para relatar seus fatos com verossimilhança, ou mesmo traçar algum paralelo interessante sobre a condições daqueles personagens quanto reféns um do outro. Poderiam muito bem ter indicado “A Culpa é das Estrelas”. Seria mais plausível.
“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)“, Alejandro González Iñárritu
Não é nem por ser ruim que eu deteste “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)“, mas são soluções tão idiossincráticas, uma trama que se acha esperta por debochar de si mesma e personagens que servem apenas de muleta para um espetáculo sobre absolutamente nada e ninguém. Se existe algum propósito aqui é de que esse talvez seja o pior estudo de personagem já feito.
Por fim,
Quem leva: “Boyhood: Da Infância à Juventude“, Richard Linklater
Possibilidade: “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)“, Alejandro González Iñárritu
Quem merecia: “O Grande Hotel Budapeste“, Wes Anderson
Lembrando que amanhã tem cobertura do Oscar nas redes sociais do CineOrna! Bom Oscar, pessoal! 😉
Confira as críticas dos filmes indicados ao Oscar de Melhor Diretor:
Crítica 01 | “Sniper Americano“, por Thiago Cardoso
Crítica 02 | “Sniper Americano“, por Gabriel Lisboa
Crítica 01 | “Selma: Uma Luta Pela Igualdade“, por Carlos Pedroso
Crítica 02 | “Selma: Uma Luta Pela Igualdade“, por Thiago Cardoso
Crítica 01 | “A Teoria de Tudo“, por Maiara Tissi
Crítica 02 | “A Teoria de Tudo“, por Carlos Pedroso
Crítica | “O Jogo da Imitação“, por Thiago Cardoso
Crítica | “Birdman“, por Maiara Tissi
Confira mais especiais Rumo Ao Oscar:
Rumo Ao Oscar: Melhor Trilha Sonora, por Gustavo Panacioni
Rumo Ao Oscar: Melhor Animação, por Isabele Orengo
Rumo Ao Oscar: Melhor Figurino, por Ana Lesniowski
Rumo Ao Oscar: Melhor Ator e Melhor Atriz, por Kelvyn Kaestner
Rumo Ao Oscar: Melhor Filme Estrangeiro, por Thiago Cardoso
Rumo Ao Oscar: Melhor Diretor, por Carlos Pedroso
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