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Quem nunca quis saber o que se passa na cabeça de outra pessoa, ainda mais quando ela é sua parceira numa relação amorosa? O casamento exige um conhecimento amplo e prévio do(a) parceiro(a)? Essas e muitas outras perguntas rodeiam “Garota Exemplar” (“Gone Girl“), sempre com a precisão estética e técnica que o diretor David Fincher carrega consigo, entregando um filme surpreendente.

Garota Exemplar | PÔSTER

Amy (Rosamund Pike) e Nick Dunne (Ben Affleck) estão prestes a completar cinco anos de casados e pareciam ter uma vida prazerosa a dois até a recessão econômica e a notícia de que a mãe de Nick se encontrava em estágio avançado de um câncer, forçando-os a largar a vida agitada em Nova York e se mudar para o interior, onde tudo viria a desandar. Amy, a exemplar menina fabulada por seus pais numa série de livros de sucesso, teria que se reinventar naquele novo e desolado lar; seu marido, fingindo ser um recluso escritor do campo que só consegue se livrar do bloqueio criativo encontrando a catarse pelo sexo.

É numa manhã em que Nick resolve sair e conversar com Margo (Carrie Coon) , sua irmã gêmea, n’O Bar que recebe a notícia de que sua esposa desapareceu de casa, com vestígios de sequestro ou até mesmo assassinato. A polícia começa a investigar e, embora o relato de Dunne pareça verídico, incidentes, depoimentos alheios e até pistas deixadas pela própria esposa se encaminham para incriminá-lo. Tendo praticamente apenas sua irmã como apoio, Nick começa uma difícil cruzada para provar sua inocência – ou seria seu crime?

Garota Exemplar | FOTO

Escrito por Gillian Flynn, que também concebeu o livro original, o roteiro é fragmentado trazendo vários pontos de vista: enquanto os acontecimentos do “presente” acompanham Nick, os incidentes do passado são narrados por Amy mostrando como uma relação que era tão romântica, digna de nuvens de açúcar, passou a se tornar algo tão doentio e enraivecedor. E essa narrativa alinear ganha ainda mais impulsão com os cortes fascinantes de Kirk Baxter, habitual colaborador de Fincher e desde já um provável indicado a Melhor Montagem no Oscar de 2015, além dos toques graves, frios e ecoantes da trilha de Trent Reznor e Atticus Ross, que fascinam ainda mais a cada inesperada revelação das pistas deixadas por Amy e claro, a própria situação caótica que se torna no Missouri.

Garota Exemplar | FOTO

Se tem alguém que rouba a cena em todo o tempo da projeção, certamente é Rosamund Pike. Loira tão digna e de caráter dúbio quanto as mais icônicas dos filmes de Hitchcock, a moça impressiona com seu corpo e expressões e ainda mais com seu delicioso timbre de voz lendo cada linha do diário de Amy. Sim, ela não pode ser esquecida nas premiações também. E o que dizer de Ben Affleck, que é tão contestado? Diferente do sofrível “Aposta Máxima“, o cara aqui está dedicado e nos fornece empatia de sobra por seu personagem, tentando se mostrar inocente a todo custo e, mesmo quando tudo indica o contrário, a gente quer ficar do lado dele. De sobra, tem Neil Patrick Harris mostrando que sabe fazer mais do que comédias e encarnando o possessivo ex-namorado de Amy. Se em “Millennium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres“, Rooney Mara e Daniel Craig estavam impecáveis, David Fincher mostra mais uma vez que sabe extrair o melhor dos seus atores sem recorrer a exageros.

Aproveitando para cutucar a mídia televisiva, tão sensacionalista e imparcial, que nada mais quer do que o auto-favorecimento, “Garota Exemplar” ainda se abastece de elementos tão presentes no nosso cotidiano a fim de comprovar o quanto as pessoas podem ser cínicas, fúteis e que podem fazer de tudo, por bem ou por mal, para garantir nada mais do que um pouco de atenção.

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