Quando vi “O Artista” pela primeira vez, ainda estava tentando absorver a cultura Hollywoodiana como um todo, e por não ter tanta percepção de narrativa, consumi o filme de Michel Hazanavicius como sendo meramente um entretenimento nostálgico, pelo frisson momentâneo do filme na época de seu lançamento no país. Três anos depois, a experiência parece ser um pouco menos empolgante, não apenas pela concepção de filme-de-arte monárquico que o fez ser o grande vencedor dos prêmios naquele ano, mas principalmente na forma como Hazanavicius tenta manipular os sentidos de tal conceito sem desenvolver qualquer identidade própria.

 

A ideia de filme-homenagem cabe em “O Artista” como nostalgia mesmo, e se torna um por menor quando a sutileza e o carisma de Jean Dujardin na pele de George Valentin, ator decadente em pleno ostracismo e em conflito com o Cinema falado que dominou as produções Hollywoodianas no início dos anos 30, invade a tela tomando conta de qualquer monopolização conceitual de Hazanavicius. Mesmo que a técnica e a precisão do diretor pra dominar a arte de filme clássico não seja algo prejudicial no desenvolvimento tênue da narrativa e da idealização de “O Artista“, parece ser tão somente pela excelência de tal caracterização do filme de época que a consistência dos conflitos abordados durante o desenvolvimento narrativo de “O Artista” acaba servindo apenas de pano de fundo para a estética do diretor. Ainda que um tanto imperceptível dentro do melodrama estabelecido por Hazanavicius, há um conflito realista muito consistente envolvendo o homem e seu (alter)ego na personificação de Dujardin, que consequentemente transforma a homenagem marqueteira por excelência do filme num estudo bastante peculiar da projeção de Hollywood como indústria corporativa, o tornando inevitavelmente pertinente em sua própria subjetividade.

 

Não que os equívocos de Michel Hazanavicius deixem de emular a sensibilidade pictórica do preto e branco e dos clássicos Hollywoodianos usados como referência, mas é essencialmente no tato do diretor quanto ao desenvolvimento dos personagens que “O Artista” encontra seu maior desafio, pois mesmo que o elenco trabalhe de forma plena para desenvolver tais personas, ao vagar em diversos tópicos sem nunca os desenvolver, a narrativa ganha forma ambígua a ponto de não se ter noção se Hazanavicius é consistente quanto ao apelo da imagem que seu filme transmite, ou se ele está somente brincando de ser cineasta às custas da universalidade de Hollywood. 

 

 

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