Guillermo Del Toro é um desses diretores que fazem a gente querer sair de casa e ir para o cinema assim que seus filmes chegam às telonas. Com tantas possibilidades de streamings e plataformas por aí – e uma pandemia que ainda não terminou – isso é realmente dizer muito. Afinal, o poder visual e a estética tão peculiar quanto genial de Del Toro não é algo que se vê todo dia, e uma tela de cinema continua imbatível para quem busca toda experiência que um filme pode dar.
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Em “O Beco do Pesadelo”, seu mais recente lançamento, porém, toda essa expectativa pode cair em um abismo de roteiro duvidoso e personagens desinteressantes. É claro que acertar sempre é um peso difícil, até mesmo para uma das criaturas mais criativas do mundo cinematográfico [não sei se deu para notar, mas sou fã]. Não só o interesse como a curiosidade pelos filmes do diretor cresceu especialmente após o sucesso e beleza de “A Forma da Água”, que conquistou diversos prêmios em outra temporada de premiações não muito tempo atrás.
Dessa vez, a história que o diretor dá seu toque de fantasia, imaginação e mistério é a adaptação de um livro lançado nos Estados Unidos nos anos 1940. Na trama, Stanton Carlisle (Bradley Cooper) foge de seu passado e busca uma nova vida, não importa o que precise fazer. É em um circo itinerante que ele encontra não apenas uma nova vocação como também um novo amor. Repleto de ambição e charme, cada passo de sua trajetória é calculado para superar as adversidades em seu caminho e conquistar a glória que ele tanto almeja.
“O Beco do Pesadelo” é adaptação de um livro dos anos 1940 que possui os mistérios e intrigas típicos do período, seja na literatura ou no cinema, tanto que ganhou sua primeira versão para as telas em 1947. O universo místico e carnavalesco do filme colabora e corrobora muitas escolhas belíssimas, mas que não sobressaem ao que o cenário em si exige. A problemática passa longe destes aspectos e se restringe a algo básico: Personagens e relações.
Como um bom Noir, sombras de caos e consequências acompanham esses personagens em toda jornada, e é nesta estética que temos o ponto do forte da trama. Del Toro capta esse ambiente lindamente e somos levados para essa época com uma direção de arte primorosa, capaz de nos sentirmos dentro de cada cena, seja nas mais sensuais ou nas mais aterrorizantes.
Mas a verdade é que não queremos estar nessas cenas com esses personagens, nem com estes atores, por mais que sejam Bradley Cooper ou Cate Blanchett, reconhecidamente dentro os mais talentosos e atraentes da indústria.
A trama possui altos e baixos, revelações e sabemos não poder confiar em ninguém desde o início. Talvez seja esse o problema. Ninguém nos conquista desde o início e assim se mantém por todo o filme até seu final. Suas ações são justificáveis e as compreendemos, porém um desconforto iminente percorre toda a sessão. Para assistir, é sua conta em risco.