O filme “Hoje eu Quero Voltar Sozinho”, com roteiro e direção de Daniel Ribeiro, foi baseado no curta metragem “Eu não Quero Voltar Sozinho”, de 2010, mas agora em uma versão estendida de como Leonardo descobre seu amor por Gabriel, menino novo na turma que logo o aceita, mesmo com sua deficiência visual.
O filme tem altos e baixos, sendo estes últimos em número muito maior. Em primeiro lugar, destaco a falta de estrutura de roteiro. Parece que o Daniel simplesmente pegou o roteiro do primeiro filme, o curta, acrescentou algumas cenas, alongou outras, e pam!, um longa surgiu! Isso resultou em diálogos mal elaborados e personagens confusos. É difícil entendermos as relações entre um e outro, principalmente entre Leonardo e seus pais. Além disso, o diretor tentou colocar uma série de “draminhas” para dar peso à obra. Já não bastasse o menino ser cego e gay, ele ainda precisava ter uma relação de conflito com os pais e praticamente sofrer bullying na escola. Outro ponto negativo na narrativa é a súbita independência que Leonardo quer demonstrar. Seus pais super-protetores não o deixam nem ficar sozinho em casa, e para mostrar que “já não é mais uma criança” sai de casa escondido, passa o dia fora sem dar satisfações e resolve fazer intercâmbio (vontade que é apresentada logo no começo do filme e logo em seguida é esquecida pelo diretor/roteirista).
Em questões mais técnicas, me incomodou profundamente o desenho de som, cheio de musicas que não se relacionam com o filme, que estão lá porque alguém da equipe achou que seria legal. E a maior ressalva de todas, para o departamento de arte, que não evoluiu muito na transição do curta para o longa. Sobre a fotografia, os planos longos demais, certamente uma tentativa de aumentar a carga dramática e a veracidade dos atores através de planos sequências, foram muito mal elaborados e muitas vezes quebraram o ritmo da narrativa.
Mas nem tudo no filme é assim tão ruim. Que brilhante atuação! O trabalho de Guilherme Lobo como protagonista é incrível e muito verossímil. O rapaz interpretou o papel de deficiente visual de tal forma que é impensável achar que ele possui a visão integral fora das telas. Seus coadjuvantes também estão muito bem, com exceção dos pais de Leonardo, que não criam relação alguma com o personagem principal e não convence.
Além da atuação, o filme possui alguns planos e algumas cenas muito marcantes. São usados alguns planos a pino, em momentos chave, e cenas metafóricas, como a explicação de Gabriel para Leonardo sobre como é presenciar um eclipse (que teria tido um efeito muito mais grandioso se não tivesse sido explicada mais para o fim do filme).
Fora a atuação, existem outros pontos marcantes. Algumas cenas em específico são simplesmente lindas e sensíveis de mais, e mesmo sendo em menor número do que as cenas não tão belas, dentro do conjunto possuem um peso maior e dão uma vida e criam uma conexão muito fácil com o espectador.
“Hoje eu Quero Voltar pra Casa Sozinho” abre portar para outros filmes independentes nacionais serem exibidos em salas comerciais e para que o cinema nacional aborde mais o tema da homossexualidade. Eu diria que este é um filme que vale a pena ser visto, principalmente por conta dessas cenas, que fazem você sair da sala de cinema simplesmente apaixonado. Pelo que? Cabe a você descobrir.
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Crítica 01 | “Hoje eu Quero Voltar Sozinho“, por Carlos Pedroso
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