Em seu longa de estreia, o diretor René Sampaio utiliza o enredo e personagens criados por Renato Russo na canção Faroeste Caboclo para compor a versão cinematográfica de uma das obras mais icônicas da música brasileira. Enquanto “Somos Tão Jovens” retrata a vida do cantor em Brasília, o início de seu envolvimento com a música e a criação da banda Legião Urbana, “Faroeste Caboclo” é mais uma prova do talento do compositor que transformou história em poesia, em forma de canção, que hoje é recontada no cinema.
João de Santo Cristo é um baiano que deixa sua vida miserável em Salvador e chega a Brasília com olhar de estrangeiro, esperança de menino e enfrenta os obstáculos que seu sonho de progredir o trás. Conhece Maria Lúcia, um jovem de classe média alta por quem se apaixona, e se intromete nos negócios dos poderosos da cidade. Enquanto Renato precisava respeitar métricas, o cinema precisa seguir uma narrativa dramática coesa, por isso o roteiro não é completamente fielmente a cronologia da música, deixando de lado alguns fatos e focando um pouco mais em outros.
Como explicado em coletiva com a imprensa para o lançamento do filme, o recorte escolhido para maior desenvolvimento no enredo foi o relacionamento entre João e Maria Lucia. “Mesmo que o relacionamento deles não seja tão desenvolvido na canção, ele é o evento principal na história de João de Santo Cristo, o que o leva para seu desfecho”. O diretor ainda admitiu que Faroeste Caboclo não se trata de uma cópia fiel, e sim de uma releitura, e garantiu ter permanecido com a essência dos personagens.
Ainda consideravelmente novo no pedaço, o ator Fabrício Boliveira é quem dá vida a João, personificando perfeitamente este personagem que não é vilão nem herói, que samba na linha tênue entre justiceiro e injustiçado. Uma interpretação que exige um ator com sutileza para que fosse entregue no peso correto. Assim como o papel de Maria Lúcia, interpretada por Ísis Valverde, atriz revelação da Rede Globo que mostra o gosto pelo desafio de viver personagens bastante variados e afirma não escolher o papel por seu tamanho, mas por sua densidade e intensidade. Já Felipe Abib, visto recentemente na comédia “Vai Que Dá Certo“, vive o vilão Jeremias, que tem como comparsa Marco Aurélio, papel do grande Antonio Calloni. O longa conta ainda com Marcos Paulo no elenco, em seu último papel para o cinema, como o pai de Maria Lúcia.
A trilha sonora do filme, como não poderia deixar de ser, é de grande destaque e qualidade, sendo capaz de envolver ainda mais o espectador e reverenciar as excelentes interpretações dadas pelo elenco. Com muito rock acentuando as cenas de ação vividas por João de Santo Cristo, “Faroeste Caboclo” é a suma do faroeste nacional, marcado por cortes e enquadramentos típicos do gênero americano. René Sampaio começa bem sua carreira no cinema e se mostra promissor ao realizar um longa que homenageia ao mesmo tempo em que conta uma boa história e, acima de tudo, entretém o espectador.
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[CRÍTICA] – Faroeste Caboclo por Gabriel Lisboa
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