No último 10 de agosto, o CineOrna completou 6 anos de atividades trazendo muitas notícias e críticas dos filmes que bombaram de lá pra cá, sem contar as tantas pré-estreias e demais atrativos que tanto cativou nosso público nesse espaço de tempo. Minha relação com o portal começou lá em 2012, sempre de olho nas promoções de ingressos até decidir ingressar no time de novos críticos do site na época com uma crítica de “Django Livre“, o western dirigido por Quentin Tarantino que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original e mais outra estatueta para Christoph Waltz como Ator Coadjuvante por seu desempenho com o perspicaz dentista/caçador-de-recompensas Dr. King Schultz.
De lá pra cá, entre minhas aulas no curso de Cinema e os filmes feitos lá (a maioria bem escondidos do público…), estágios e tudo o mais, apresentei aqui mais de uma centena de críticas de filmes que não só fizeram evoluir meu pensamento analítico e cinéfilo, como complementou e muito minha formação profissional como realizador audiovisual. Diante disso, e aproveitando o número da nossa comemoração especial, decidi listar 6 filmes que não me são apenas essenciais, como infinitamente inspiradores e que dificilmente cheguei durante minha passagem como crítico do CineOrna. Fiquem com este pacotão de clássicos!
1) “O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel“
Assim como boa parte do público brasileiro, eu conferi o primeiro filme da trilogia dirigida por Peter Jackson em janeiro de 2002, mas eu lá com os meus 12 anos só tinha olhos para “Harry Potter e a Pedra Filosofal“, apesar de ter gostado bastante dos efeitos e tudo o mais ao redor da longa aventura ao redor de Frodo (Elijah Wood), Gandalf (Ian McKellen) e os demais membros da Comitiva do Anel. E então, vocês me perguntam: por que o filme está em primeiro lugar nesta lista?
Aconteceu que meses depois, ao ganhar o longa em DVD duplo no meu aniversário, eu já estava bem mais interessado na história escrita por J.R.R. Tolkien do que de costume, ainda mais quando os vários vídeos de Making Of inclusos no segundo disco ressaltavam a qualidade da produção do longa e, mesmo com recursos tecnológicos de ponta (na época…) e devidamente oscarizados, havia muitas cenas rodadas com relativa simplicidade a favor de uma boa narrativa que, em seu ímpeto, sempre conversou sobre amizade e a capacidade pessoal de realizar grandes feitos. Além de todos os adereços, figurinos, maquiagens protéticas, trilha sonora, a fotografia me fascina mais e mais: do uso de lentes teleobjetivas para fazer os intérpretes dos hobbits e anões parecerem pequenos, as filmagens nas deslumbrantes locações da Nova Zelândia, custei a acreditar quando o diretor de fotografia Andrew Lesnie comentou que utilizou luzes de Natal (sim, os populares “pisca-piscas”!) para criar um brilho diferente nos olhos da elfa Galadriel, vivida por Cate Blanchett. Desses pequenos detalhes às inesquecíveis cenas de batalhas, “O Senhor dos Anéis” é a trilogia de filmes que me fez sonhar em seguir a carreira no Cinema e, quem sabe um dia, lançar nas telas algo tão bonito quanto.
Como ver? Disponível em DVD, Blu-ray, cópias digitais, serviços de streaming e ocasionalmente em canais da TV fechada.
2) “Era Uma Vez No Oeste“
Do diretor Sergio Leone, eu só conhecia a famosa Trilogia dos Dólares estrelada por Clint Eastwood que, por sua vez, veio pelo fato de sua icônica música “The Ecstasy Of Gold” ser a faixa de abertura dos shows do Metallica (há uma crítica minha sobre o filme da banda no acervo também) há um bom tempo. Encantado pela decupagem (ou a divisão dos planos do filme) do diretor italiano, o contato com o longa lançado em 1968 veio de forma bastante inesperada: em DVD com preço promocional nas gôndolas de supermercado, onde tanto encalham a dezena de filmes do Adam Sandler e outros títulos menores. Na época, eu já apreciava e muito o cinema do Leone e considerava o Henry Fonda um tremendo ator daquele tempo e, quando terminei de ver o longa, tinha a certeza de ter visto uma obra formidável e que tanto influencia cineastas até hoje.
A começar pelo seu início silencioso e bem cortado que só é interrompido com o zunido de uma mosca e o distante apito do trem, veículo que acaba sendo importante em outros momentos da narrativa. Aí Ennio Morricone entrega outra grande trilha sonora, deixando reverberar as ardidas notas de uma guitarra distorcida, para revelar a chegada de Harmonica, interpretado por Charles Bronson. Com movimentos de câmera bem executados, utilizando por vezes a grua e, assim, nos dando amplas visões desse universo mítico que se tornou o Velho Oeste Americano, é impossível deixar de mencionar a chegada de Claudia Cardinale à estação e o zoom nos olhos de Harmonica, para trazer uma terrível lembrança do passado. “Era Uma Vez No Oeste“, além de sua trama de vingança e metáfora sobre o progresso, também traz humor e um cinema pensante logo quando a Hollywood dos anos 60 carecia disso.
Como ver? Disponível em DVD, Blu-ray e, possivelmente, no catálogo da Netflix.
3) “Mad Max: Estrada da Fúria“
George Miller levou anos e anos para entregar seu retorno ao universo de “Mad Max” e a espera valeu a pena: testemunhamos um entretenimento muito mais que meticuloso e deliciosamente esquisito, mas uma autêntica rock opera que nem mesmo as bandas do gênero conseguiram fazer. Escrevi uma crítica ainda na época do lançamento do filme, a qual vocês podem conferir no link abaixo, mas digo mais…
++Veja Mais: Confira a crítica de “Mad Max: Estrada da Fúria“
A experiência foi tão empolgante que não tardei em pesquisar sobre a produção do filme que envolveu exaustivas filmagens no deserto da Namíbia e uma certa fofoca de que Charlize Theron e Tom Hardy se estranharam nos sets. Como sabemos, “Mad Max: Estrada da Fúria” faturou 6 Oscars devidamente merecidos, ainda mais com o trabalho de edição com um total 2.700 de planos bem pensados, ao contrário daquelas confusões visuais que Michael Bay costuma fazer. Não obstante, esse árduo trabalho da editora Margaret Sixel só foi possível porque George Miller estipulou que toda a ação filmada deveria ser enquadrada no centro da tela, o que foi benéfico ao ritmo do longa e por evitar ocasionais falhas na continuidade. É válido ressaltar a predileção de Miller por uma narrativa de diálogos mínimos, colocando os personagens para falar apenas o essencial, afinal, a linguagem universal do cinema sempre foi a sucessão de imagens em movimento.
Como ver? Disponível em DVD, Blu-ray (também em 3D) e em canais da TV fechada.
4) “La La Land: Cantando Estações“
Eu certamente não vou me cansar de falar ou escrever sobre esse filme que ”quase” foi o ganhador de Melhor Filme no Oscar (apesar de ter faturado outras 6 estatuetas lá e tudo o que poderia nas outras grandes premiações da temporada), mas é fato que “La La Land: Cantando Estações” se tornou um filme intrinsecamente especial para mim em uma fase de vida muito difícil.
++Veja Mais: Confira a crítica de “La La Land: Cantando Estações“, por Thaíssa Falcão
Há quem diga que o filme é uma costumeira bajulação de 120 minutos sobre e para Hollywood, que é mais um musical insuportável de atores sorridentes e há quem diga que há um teor preconceituoso com outros gêneros musicais só porque um personagem é defensor de um jazz de raiz dito “em extinção”, só que “La La Land” vai além das suas várias influências do cinema americano e francês (sim, há várias referências de clássicos da terra da Catherine Deneuve espalhados por lá!) e seu roteiro de arcos sucintos, sem se enrolar em subtramas que não vêm ao caso ou por uma apropriação de temas para sair na frente na disputa de prêmios apenas por tais assuntos “polêmicos”. “La La Land” é caprichado em todos os seus quesitos e esbanja do melhor que a linguagem do cinema pode oferecer, é agradável a todos os públicos, mas é certeiro na geração jovem que, cercada e cansada de tantas portas fechadas ou incertas, tenta criar suas próprias oportunidades, só que isso não é fácil e tem seu custo, sobretudo emocional. A música que antes era tão efusiva passa a perder seus mais ricos arranjos, mas seu motivo estará reverberando até que possa encontrar o se perdeu no caminho.
Como ver? Disponível em DVD e Blu-ray.
5) “Psicose“
Até 1960, Alfred Hitchcock já tinha dezenas de filmes no currículo, um programa de televisão e um tremendo prestígio dos críticos franceses da Cahiers du Cinéma que era raro entre a imprensa e academia estadunidense. Habitual leitor de romances a fim de encontrar e adaptar potenciais suspenses para a telona, Hitchcock encontrou no livro do autor Robert Bloch uma incomum história de assassinato, aquela que viemos a conhecer como “Psicose“.
No alto do Technicolor, do Cinemascope e de orçamentos cada vez mais exorbitantes, “Psicose” parecia um retrocesso vide a escala do filme anterior do diretor, “Intriga Internacional“, que praticamente veio a definir o estilo dos filmes de espionagem como conhecemos muito bem hoje. Só que o filme estrelado por Janet Leigh e Anthony Perkins (que, por sinal, fizeram uma visita por Curitiba em 1964!) não envelheceu nada mal desde seu lançamento e não cansa de ser intrigante, mesmo que assistido várias vezes e, ainda que a estridente trilha sonora do Bernard Herrmann contribua bastante nessa experiência, Hitchcock deu uma masterclass de cinema ao comprovar que se pode fazer muito com pouco. A divisão dos planos bem pontuada e que significam muito mais do que diálogos, o jogo de luzes e sombras e sua transgressão narrativa que deixam uma pergunta no ar (afinal, quem é o(a) protagonista?) fazem de “Psicose” um suspense atemporal e que nem mesmo remakes, uma série de TV e o próprio Hitchcock posteriormente conseguiram superar.
Como ver? Disponível em DVD, Blu-ray, de vez em quando na TV fechada e no catálogo da Netflix (em baixa qualidade).
6) “Incêndios“
Até a inesperada e ótima repercussão de “A Chegada” a partir do final de 2016, Denis Villeneuve já era um diretor de respeito entre os adoradores do Cinema Cult antes mesmo de o cineasta fazer “Sicario“, “O Homem Duplicado” e “Os Suspeitos” com elencos estelares e qualidade ímpar, como de praxe. Lançado em 2010, “Incêndios” é um filme relativamente menor em comparação com seus sucessores, o que não quer dizer que não é impactante. Muito, mas muito pelo contrário.
Villeneuve nos envolve numa tragédia familiar que passa por vários percalços, sejam eles culturais e (sobretudo) físicos, saindo do Canadá para o Oriente Médio e se dividindo nas jornadas das duas gerações que movem a narrativa com seu suspense crescente, o que demonstra que o diretor do vindouro “Blade Runner 2049” sempre teve talento nato para a coisa. A duração longa com incidentes igualmente lentos e cenários realistas podem não ser os melhores dos atrativos, mas sejam persistentes: assim como em “A Chegada“, Villeneuve apresenta um clímax arrebatador e de prender a respiração sem precisar de explosões ou qualquer coisa exageradamente grandiloquente. O poder do storytelling se resume a escolha dos recursos certos, e alguns planos de flashback e uma pergunta são mais do que suficientes.
Como ver? Se disponível, em DVD ou quando voltar ao catálogo da Netflix.
Espero que desfrutem dessa lista, por mais que a maioria dos títulos seja bastante conhecida. No entanto, é sempre válido conferir os filmes mais de uma vez com outros olhos, com outro foco ou até com disposição para gostar ainda mais de cinema e o que ele tem de melhor a oferecer.
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